sábado, 20 de agosto de 2016

O artista silencioso, a tela ignorada



“Eu sinto uma grande emoção ao pensar que, espalhados pela cidade, neste ou naquele bairro modesto, aonde não chega a sirene dos cinemas, há criaturas que passam a parte mais feliz do seu dia pintando crepúsculos e fios d´agua, árvores e frutas, cabeças e torsos que ninguém verá, nem para elogiar nem para atacar (perdão: para atacar, há sempre público, e público que dispensa exame).

Penso nesse artista silencioso, que não vai nem irá nunca à Europa fazer o mesmo que fazem alguns amenos mocinhos beneficiados pela Escola de Belas-Artes: visitar o Louvre e a praça Pigale, frequentar os dancings e voltar mais impermeável ainda à verdadeira pintura. Artista sem medalha nem prêmio, obrigado, para manter-se, a exercer misteres que vão desde a burocracia pacífica até a laboriosa confecção de tabuletas, quando não até à incrível decoração de alpendres. Gosto desse artista bonzão, que não protesta nem se suicida, e que todos os anos expõe a sua tela ignorada na Exposição Geral de Belas-Artes de Minas Gerais.”


(Drummond, na crônica Do artista desconhecido, 1930)

sábado, 13 de agosto de 2016

Anotações sobre cachoeiras

"1)      Para se chegar a uma cachoeira é preciso, antes, percorrer uma trilha."

(Clique na ilustração abaixo e leia na íntegra a nova crônica escrita para O Salto. Crônica para confundir o que são pés, escrita, água. Crônica para se atentar à trilha.)