sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Olhares poucos: Porto Alegre, RS

Quem procura acha
Nunca mais voltar
Paz no seu coração
Não tenho medo da vida
Estou louco por você

Amigo meu
Vacilou
Noite vem, noite vai
Daqui pra frente
Deus quis

(TNT)












Outubro/Novembro de 2013

quarta-feira, 13 de novembro de 2013


“Quando chegam os dias claros, de sol quente, quando a nossa alma, ofegando, sente a natureza despertar, já então não suportamos mais os presídios circunvagados, as levas! E a liberdade que ferve alhures, de que outros participam, torna-se o nosso desejo lancinante. Nessa estação do ano, quando a primeira cotovia desfere o seu canto, começa por toda a Rússia, assim como na Sibéria, a marcha dos vagabundos. É então que os filhos de Deus abandonam as prisões e se internam nas florestas. Livres dos processos maçantes, dos fossos, das cadeias e das chibatadas, vagueiam a Deus dará, por onde lhes apraz, por onde se sentem mais livres, comendo e bebendo o que Deus lhes joga, dormindo à noite nos bosques ou nas planícies, sem cuidados, sem regulamentos, como pássaros sob o olhar da Providência, apenas dando ‘boa noite’ às estrelas do firmamento. Nada de ilusões: muitíssimas vezes é duro estar a serviço do general Cuco; passa-se fome, urge ser esperto; às vezes se fica mais de vinte e quatro horas sem ver um pedaço de pão, é preciso se esconder de todo o mundo, roubar, assaltar; uma vez ou outra cortar, até mesmo, uma garganta. ‘O colono é como uma criança: o que vê, pega’, diz um ditado siberiano. Esse provérbio se ajusta muito mais ao modo de ser dos andarilhos. É raro que sejam bandidos, mas comumente roubam, e isso mais por necessidade do que por cupidez. É quase impossível eles mudarem de vida. Muitos voltam de novo à vagabundagem, depois que saem do presídio e quando a caminho das lavouras coloniais. Supor-se-ia que essa nova condição de colonos os contentasse; mas não; atrai-os qualquer coisa mais adiante; têm de caminhar.”

(Dostoiévski, em Recordações da Casa dos Mortos)


P.S.: Já me despeço da obra e, daqui a alguns dias, ela viajará de novo para minha estante, aguardando paciente um momento de saudade. Despedir-se de um livro, e de seus personagens, do seu cheiro, do seu modo de ver o mundo, é como se despedir de um amigo que vai embora. É como livrar-se de um abrigo que foi seu, e só seu, por alguns instantes. É como deixar uma lembrança de lado, sabe aquela lembrança de infância que a gente esquece quando cresce? É como quebrar um laço, para criar outros, inclusive com esta obra mesmo que se vai. Algumas obras nunca vão. Mas a convivência se perde; o levar na mochila para todo canto que se vá. Pois chega a última página, a última página adiada. E o livro termina. O mundo acaba. Os personagens seguem seu rumo, sem o leitor no encalço. E este conhece outros mundos, pois há sede, desejo, a fome de quem viaja. Ler é como ser vagabundo em tempos de primavera. 

(outros trechos da obra aqui e aqui).

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Dor elegante

Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Como se chegando atrasado
Chegasse mais adiante.

Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha.

Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nessa dor
Ela é tudo que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra.



(Itamar Assumpção e Paulo Leminski)