domingo, 21 de fevereiro de 2016

Tentativa de resenha: “Deixe a luz acesa”, Ira Sachs, 2012

Daniel,

Erik, o protagonista de Deixe a luz acesa, é um cineasta sem sucesso profissional que acaba de terminar à distância um relacionamento e, na primeira cena do filme, procura parceiros sexuais num chat por telefone. Encontra um e viaja para conhecê-lo. Caminha pelas ruas da cidade. É noite. Ele se mistura às ruas. Após a transa, o parceiro avisa: tenho namorada, não se anime muito. É uma pena, Erik suspira, responde e sai. Encontra um novo parceiro. Um homem que só quer exibir seu corpo escultural. O olhar de Erik é o mesmo tanto para o primeiro, quanto para o segundo parceiro. Um dia, encontra Paul, advogado recém-saído de um relacionamento com uma mulher. Eles se apaixonam. Paul é viciado em crack. O relacionamento dura dez anos. Na última cena, Erik novamente está caminhando pelas ruas da cidade. É dia. Ele está de costas para a câmera e não é possível ver seus olhos, o que eles dizem. Seu corpo se afasta até se perder de todo. Perder-se entre as pessoas, perder-se num fade out que é o resto da caminhada, a subida dos créditos. Erik continua.



segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Tentativa de resenha: "A cor da ternura", Geni Guimarães



A cor da ternura é autoficção. A autora Geni Guimarães retorna à infância no interior de São Paulo para recontar história que é sua e de muitas outras mulheres. A personagem Geni é uma criança negra que vive com os pais e os irmãos numa fazenda, onde trabalham. O livro narra sua trajetória: do ciúme do irmãozinho que está prestes a nascer, passando pela descoberta de sua raça na ponta do dedo inquisidor, até a vida adulta. Embora seja uma menina criativa e avoada, um dia tenta tirar a cor negra de sua pele com tijolo triturado, bom para remover carvão do fundo das panelas. Noutro, véspera de seu primeiro dia de aula, pergunta à mãe, que lhe trança o cabelo, por que ela deve ir tão arrumada e Janete pode ir de nariz escorrendo. Porque Janete é branca, a mãe não hesita e responde.

Essa tensão racial percorre todos os capítulos do livro. A autora equilibra a dureza da constatação do racismo com a singeleza do olhar de sua protagonista. E essa conciliação, ao invés de aliviar o verbo, torna tudo ainda mais pesado. Geni escreve a escrita das pedras. Narra na intenção da trombeta.

A literatura juvenil da autora é capaz de satisfazer crianças, adolescentes e adultos. A linguagem direta, exigida por esse nicho de produção literária, tanto facilita a compreensão dos mais novos, quanto aprofunda o sentido para os mais velhos. Diz exatamente como devem ser ditas as verdades dolorosas.

Há ternura, no entanto. E as sutilezas aparecem na forma de engasgo. Geni Guimarães, assim como Conceição Evaristo, Miriam Alves, assume a postura de escritora afro-brasileira que decidiu não se manter mais engasgada. A cor da ternura, mais do que livro, é grito. Engasgo transferido. 



A cor da ternura
Geni Guimarães
1989
Ed. FTD
93 páginas
Avaliação: 3,5/5

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Noticiário: fev/2016

- Vou me mudar para Belo Horizonte. Cursar Letras na UFMG.

- O artigo “Práticas pedagógicas libertadoras e a vacilação” foi publicado na revista Conhecimento Prático – Literatura deste mês. O periódico pode ser encontrado nas bancas de todo o Brasil.





Bom fevereiro. 

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Entrevista

Conduzi uma entrevista com o fotógrafo Danilo Nascimento para O Salto. Conversamos sobre o que a imagem revela ao indivíduo que fotografa, ao indivíduo fotografado, ao espaço. O papo foi bom. Pirapora continua bem representada. 

Tudo corre melhor agora, diga-se de passagem. Há um valor terapêutico em dizer a si mesmo que tudo vai bem. Digamos, portanto. Vai bem.

Clique na imagem para se redirecionar à entrevista. E boa leitura. 




pela segunda vez, espécie nova