segunda-feira, 29 de julho de 2013

Elena


Poesia em cada cena, em todo canto,
agonia, aperto no estômago.
Cinema catalisador de crises.


Elena, 2012, Brasil.
Direção de Petra Costa.

sábado, 27 de julho de 2013


Canção de vidro

E nada vibrou...
Não se ouviu nada...
Nada...

Mas o cristal nunca mais deu o mesmo som.

Cala, amigo...
Cuidado, amiga...
Uma palavra só
Pode tudo perder para sempre...

E é tão puro o silêncio agora!


(Mario Quintana)


terça-feira, 23 de julho de 2013

Em tempos de visita do Papa


Frequentava a igreja na manhã dos domingos
O que fazia na capela escura,
enquanto o dia aberto, ensolarado,
convidava-me à escadaria e aos morros?
A luz não se ajoelhava.
Meus pecados não sabiam que eu existia.
Rezar pareceu-me um sacrifício,
a espiral do peixe a seco,
contorcendo-se no banco de uma missa,
pedindo que não chovesse à tarde.
Deus falava uma língua adulta.


(Fabrício Carpinejar)

quarta-feira, 17 de julho de 2013

terça-feira, 16 de julho de 2013

Carta escrita durante uma aula qualquer, pois o mundo está cheio de educação qualquer


Paulo,

você foi um herói. Ter pensado uma nova educação, sem hierarquia, sem arrogância, sem verticalidade, sem demasia, em um mundo que valoriza a pirâmide, o dado, o estanque foi uma missão heroica. Mas você me deixou sozinho, Paulo. Sozinho neste mundo cão. Num mundo que não escuta, não critica, não politiza, não revoluciona. Entrar numa sala de aula tradicional é como ser engolido por um monstro frio; goela abaixo entramos numa máquina cinza, insensível, que pouco se importa com o outro, com o novo, com o poético. Lugar de boca, ausência de ouvidos. Essa máquina se chama educação bancária, Paulo. E foi você quem a nominou.

As cadeiras de minha sala de aula são presas ao chão. O professor de minha sala de aula não quer ouvir a multidão, ele é um instrumento opressor. Alguma força invisível me largou neste modelo de educação, neste sistema sombrio. Você pensou algo diferente, Paulo, mas me deixou aqui, medroso. Haverá espaço para a revolução fora da gente? Haverá tempo? Haverá coragem?

Paulo, me fale em sonho, ou acordado, onde você deixou enterrado aquele seu baú de esperança, onde há uma folha de papel em branco e um lápis. Também há uma borracha no seu baú, eu sei, pois a gente erra e sempre será preciso reescrever. Sempre. Já está na hora? O presente é o melhor tempo, o tempo verde, de mãos e de vontade. Virá você até o presente, Paulo? Virá me buscar? Ou será tempo de cada um ser um novo Paulo, um novo Paulo Freire, haverá espaço para uma legião?

Onde você está, como é a educação?

Só preciso de um pouco de cuidado.

Revolução é, em meio ao caos, cuidar de um botão de flor.

Abraços afetuosos.
Saudade de você.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Confianças



Senta à mesa e escreve…

Com este poema não tomarás o poder, dizem…
Con estes versos não farás a revolução, dizem…
Nem com milhares de versos farás a revolução, dizem…

E mais…
Esses versos não vão servir a ele para que
peões, professores, lenhadores
vivam melhor, comam melhor.
Ou para que ele mesmo coma, viva melhor.
Nem para apaixonar a outros servirão.

Não ganhará dinheiro con eles.
Não entrará no cinema grátis con eles.
Não lhe darão roupa por eles.
Não conseguirá tabaco ou vinho por eles.
Nem papagaios,
Nem cachecóis,
nem barcos,
nem touros,
nem guarda-chuvas conseguirá por eles.
Se for por eles,
a chuva o molhará.
Não alcançará perdão ou graça por eles.

Com este poema não tomarás o poder, dizem…
Comn estes versos não farás a revolução, dizem…
Nem com mihares de versos farás a revolução, dizem…

Senta à mesa e escreve…

(Juan Gelman, Argentina)