quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Abismo serpentina



E tudo que ficará para a posteridade do carnaval de 2012 (o último?) será uma foto, só agora revelada, do carnaval de 2009 – o último. 

Reconheço no moço de gravata um eu alegre, menos preocupado, menos adulto, menos responsável. Um eu de roupa de banho, sem vergonha, sem pudor, como essa senhora no canto direito, carnavalizada. Essa felicidade dos pulos, dos confetes, dos amigos fazendo caretas não é a felicidade de hoje. São diferentes.  Esta em que me encontro é a felicidade serena, mensurada, contida. No carnaval, nesta fotografia, só vale o contrário. Mas sem querer, sem acompanhamento consciente, a euforia passa, a alegria passa, a gravata torta e a embriaguez também se perdem. E o que sobra? 

Deste lado da fronteira do tempo, a felicidade se aquieta, é mansa, calminha como uma certeza, e fica, permanece até segunda ordem. 

Felicidade real, se é que ela existe, é prima próxima, quase irmã da serenidade. O resto é desvario. E o carnaval é feito pelos desvairados. Por isso, neste ano, não me sintonizo com a data. Não estou afim da extravagância de máscaras coloridas, de paixões de poucos dias, de amigos de poucas músicas, efemeridade. Quero aproveitar os meus últimos dias, antes da mudança definitiva, prolongando abraços, aproveitando o fim da tarde para carícias sem pressa, para saciar a saudade antecipada da família e despedir-me dos lugares que certamente levarei comigo. Lugares os mais calmos possíveis, como tudo que admiro. Sem serpentinas no lugar dos pássaros. Sem marchinhas no lugar do silêncio. Sem desconhecidos no lugar do vento conhecido.

E o eu longínquo desta fotografia, que fique por lá mesmo, contente, dançando ao som de alguma música fácil, ao lado de pessoas fáceis, despreocupadas com o fim da festa e o começo da ressaca. Que esse garoto quase sem calças não desperte e cante como se a euforia bastasse. E, emoldurado por um porta-retrato, embaçado pela memória fraca, jamais alinhe a sua gravata. Deixem que o eu ameno de hoje faça isso.   

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Recorte: Onde vivem os monstros (2)



 




 





 






















(Onde vivem os monstos, Spike Jonze, 2009)



Para quem não sabe, o filme Onde vivem os monstros foi baseado num livro infantil norte-americano, um clássico por lá como O pequeno príncipe o é na França e no mundo inteiro. Where the wild things are é um livrinho singelo, mínimo, menos profundo do que a adaptação cinematográfica do Spike Jonze, sendo escrito e ilustrado pelo Maurice Sendak. Os dois, literatura e cinema, cada qual com o seu nível de profundidade, têm os mesmos temas: infância, imaginação, carência, solidão, família, união, amizade... e muito, muito mais que fica por conta de quem assiste ou lê. 

É tanto dito em poucos minutos e poucas páginas que a resenha, a explicação me parece totalitária. Está tudo lá para quem quiser ver e rever, especialmente no filme. E a verdade é que a cada nova vez que eu o assisto, descubro um mundo novo, um mundo implícito, um mundo meu, só meu. O mundo onde vivem os meus monstros.   

            E para quem quiser também ler, o livro está aqui.
    
            E o trailer: 

 



            

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

René Magritte

 
"A arte evoca o mistério sem o qual o mundo não existiria"
René Magritte.


(The lovers, 1928) 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

“Vou abrir a porta para você entrar”


Amanhecendo, saindo de casa, indo à Viçosa, para uma vida nova
               

                Após tantos posts sobre angústia e blá blá blá melancólico e preocupado, parece estranho aos meus olhos escrever sobre as boas notícias atuais. Pois bem, AMANHECEU. Vou mudar de cidade, cursar Direito na Federal de Viçosa - MG. Vou sair desse sertão norte-mineiro e migrar para terras mais frias. Por lá, espero permanecer pelos próximos cinco anos da minha vida, no mínimo. A mudança pela qual tanto esperei está aqui, encarando-me de frente, e tudo está me parecendo absolutamente normal. 

                O ano passado foi quase inteiramente dedicado a esse objetivo. Ou melhor, a minha vida inteira serviu para culminar neste ponto. Foram dezoitos anos de preparação, e não um apenas. Todos os segundos respirados parecem fazer algum sentido agora, como se fossem peças de um milimétrico quebra-cabeças: a família certa, os amigos certos, quem diria, a escola certa, o ambiente correto. Estou orgulhoso de mim, e não apenas pelo resultado, que não foi nada de extraordinário, mas pelo todo que me tornei. Gosto muito do Douglas de agora. E estou pronto para começar a acrescentar-lhe peças novas. 

                A primeira viagem à nova cidade foi a minha última prova de fogo. Viçosa me recebeu com fúria, tempestade, árvores caídas na estrada, curvas, neblina. Durante a chegada quase interminável, havia apenas silêncio dentro do carro e somente a voz confiante do GPS quebrava o gelo, o medo, as orações. Vencida a prova, abrandada a chuva, na entrada da cidade, já com o som do carro ligado para espantar energias ruins, Rita Lee ofereceu-me o prêmio final: um terno abraço de boas-vindas, cantando Doce Vampiro: “Mas nada disso importa, vou abrir a porta para você entrar (...)”. Entrei. E lá vou ficar.



A fúria na estrada

                O mais estranho de tudo é que, como mencionado no primeiro parágrafo, não há frio na barriga nem medo nem ansiedade. Estou normal quanto à mudança, “escolinha” nova e pessoas diferentes. Estou anestesiado. Quero começar a viver logo tudo isso para que os sentidos possam retornar a mim. Nem que seja aquela melancolia que me acompanha sempre e que agora, comigo distante (dos outros) ou mais próximo (de mim), será acrescida de saudade. Por enquanto, a serenidade está reinando, pois sei que o caminho certo é exatamente este. Já posso voltar a ler normalmente, escrever o que quiser, encontrar amigos e me divertir enquanto não parto. Estou de férias e de mudança. 


 (Doce Vampiro - Rita Lee)