sábado, 27 de março de 2021

Dois poemas

 


(Leopoldo Cavalcante)


Dois poemas que escrevi foram publicados, no ano passado, em revistas literárias:


“Faxina”, na Revista Aboio

&

“Turismo”, na plaquete virtual do Coletivo Entre Outros.


Foram publicados, mas eu continuo de cá, pensando.

Toda vez que se publica um texto, temos a oportunidade de olhá-lo de outra maneira, por outro ângulo, sob o olhar de algum leitor possível, suposto, inexato. Esse olhar estrangeiro, mesmo que silencioso, é capaz de transformar radicalmente a nossa percepção sobre o texto, tornando-o também estranho. Torna-se estranho aquilo que até então soava tão familiar.

Ao mesmo tempo, publicar um texto também é aceitar a restrição pelo tempo, pelo espaço, pelo suporte. Aceitar a fixidez, a forma aparente, a casca que sobrou depois de tanto fazer e refazer, costurar e recosturar. É esconder o avesso, demonstrar limpeza. Concluir a faxina, esquecendo-se por um instante que a sujeira não tarda a voltar.

Foram publicados. E agora os textos podem ser lidos.
Estão disponíveis, esperando, vulneráveis.

Desconheço o nome/ das plantas

 


(Foto: Marco Marinho)


Desconheço o nome

das plantas

 

Mas também desconheço o nome

de boa parte de meus vizinhos

 

Ao contrário das pessoas

as plantas não ligam

 

Não me dirijo a elas pelo nome

mas também na verdade

não me dirijo a elas

 

Elas nada pedem e nunca reclamam

às vezes perdem muitas folhas ou apenas,

e em silêncio, morrem

 

Estão sempre mudando

nunca

se mudam

 

Estamos

por enquanto

neste pé


(Ana Martins Marques, O livro dos jardins, 

2019, Editora Quelônio)