"Escorregou
pelo chão quente o seu corpo suado. Já estava só de cueca – sol o obrigara.
Ventilador não supera meu fogo, repetia a si mesmo, enquanto escorria. Em sua
cabeça, via-se como uma massa gelatinosa, grudenta. Era o calor, repetia. Tudo culpa
do calor. Se não houvesse essa quentura, tudo seria melhor, eu estaria correndo
por campos verdejantes como na clássica cena de A Noviça Rebelde. Se não
houvesse mormaço, quarto não teria se tornado este abrigo subterrâneo contra
bombardeios. Abrigo inútil. Vento ainda entra pelas frestas e me arranca o
couro. Derreto.
Assim, derretido, lembrou-se da
mensagem que recebera pela manhã. Um amigo distante, daquela outra vida, dizendo:
Olá, tudo bem? Sinto sua falta. O que tem
feito? Não se esqueça de que existo. E como esquecer, seu filho da puta?
pensou, mas não respondeu a mensagem prontamente. Levantou-se da cadeira,
gastou a manhã com outras hesitações e até conseguiu ignorar o atordoamento.
Mas nada escapa ao meio-dia. Nada consegue fugir do sol a pino. E, então, como
esquecer este ostracismo? Esse silêncio todo que separou nossos corpos
intocados. Se não fosse a porra do seu silêncio, talvez eu tivesse insistido na
outra vida, fumando maconha e pensando que o mundo pode ser melhor. Se não
fosse seu namoro de adolescência – seis anos! Crescemos, amadurecemos juntos. Sei, sei, sei. "
(Leia a crônica na íntegra clicando na imagem abaixo)