terça-feira, 21 de fevereiro de 2017
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017
sábado, 18 de fevereiro de 2017
domingo, 12 de fevereiro de 2017
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017
Formigário
“Rema não gostava de espiá-los,
às vezes passava na frente dos quartos e os via com o formigário ao lado da
janela, apaixonados e importantes. Nino era especial para apontar rapidamente
as novas galerias, e Isabel ampliava o mapa desenhado a tinta numa página
dupla. Por conselho de Luis decidiram só aceitar formigas pretas, e o
formigário já era enorme, as formigas pareciam furiosas e trabalhavam até de
noite, cavando e removendo com mil ordens e evoluções, um alarmado esfregar de
antenas e patas, repentinos ataques de furor ou veemência, concentrações e
debandadas sem causa visível. Isabel não sabia mais o que anotar, pouco a pouco
deixou de lado a caderneta e os dois passavam horas e horas estudando e
esquecendo os descobrimentos. Nino já começava a querer voltar para o jardim,
falava dos balanços e dos petiços. Isabel o desprezava um pouco. O formigário
valia mais que Los Horneros inteiro, e ela adorava pensar que as formigas iam e
vinham sem medo de nenhum tigre, às vezes gostava de imaginar um tigrinho do
tamanho de uma borracha de apagar, rondando as galerias do formigário; quem sabe
ele era a causa das debandadas, das concentrações. E gostava de repetir o mundo
grande no de vidro, agora que se sentia presa (...)”
(do conto Bestiário, contido no livro de mesmo
nome, Júlio Cortázar, 1951)
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