(Paterson, Jim Jarmusch, 2017)
Marco,
em Paterson, filme sobre o cotidiano de um motorista de ônibus que
também escreve poemas, as coisas estão sempre projetadas umas sobre as outras.
Os sonhos de Laura, esposa do protagonista, logo de manhã se projetam sobre a
realidade: quando ela sonha com gêmeos, Paterson passa a vê-los pela cidade. Os
próprios gêmeos, inclusive, são a projeção um do outro, uma estrutura
aparentemente espelhada. Além disso, quando o motorista observa sua caixa de
fósforos, logo em seguida uma descrição dela é feita num de seus poemas. Assim,
da mesma maneira que a realidade se projeta no texto, como neste último caso, o
texto se projeta na realidade: logo que terminamos de ler os versos sobre os
fósforos, aparece escrita num muro a palavra “fire”.
O cachorro do casal é
representado em pinturas pela casa, do mesmo modo como os cereais circulares
que Paterson come antes do trabalho transformam-se em estampas geométricas
pintadas por sua esposa. Aliás, ela reproduz suas estampas em diferentes
plataformas: cortinas, vestidos, cupcakes. No detalhe, até o nome do
protagonista é o nome da cidade, ou o nome da cidade é o nome do protagonista,
além de ser o título da película. Quando o personagem escreve, imagens se sobrepõem
na tela, junto com as palavras. Por fim, a cachoeira, tema do poema da
garotinha, de que você tanto gosta, projeta-se no pequeno quadro na parede da
casa, projeta-se, enorme, na paisagem da cidade.
Esse mecanismo de sobreposição
também pode ser lido como a aproximação entre dois planos distintos, duas
diferentes esferas de sentido (o sonho e a realidade, a realidade e o texto, o
indivíduo e a cidade). Em literatura, a esse movimento dá-se um nome: metáfora.
Portanto, assim como Paterson, o motorista, Paterson, o filme, também escreve,
dessa vez com imagens. Quem disse que cinema não faz poema?
Ah,
morar junto é também
projetar-se.
Visto suas roupas, você
veste as minhas,
deitamos um em cima do
outro sobre a cama,
por vezes meus planos
de decoração são também os seus,
sem que a gente saiba.
A todo momento
aproximamos duas diferentes esferas de sentido:
eu e você.
Quem disse que esta
casa não faz metáfora?