(Roger Steffens)
“A inconsciência, que
presumivelmente significa que o subconsciente trabalha em alta velocidade
enquanto a consciência cochila, é um estado que todos nós conhecemos. Todos nós
temos experiência do trabalho feito pela inconsciência em nossa vida diária.
Vamos supor que você tenha tido um dia cheio, andando e vendo coisas em
Londres. Ao voltar para casa, pode dizer o que foi que viu e fez? Não fica tudo
nebuloso e confuso? Porém, após um aparente repouso, uma oportunidade de
virar-se de lado e enxergar algo diferente, as visões e os sons e os ditos que
lhe despertaram mais interesse afloram à superfície, ao que tudo indica por
conta própria, e permanecem na memória, enquanto o que era desimportante vai
afundar no esquecimento. Assim acontece com o escritor. Depois de um dia duro
de trabalho, em que dá voltas e mais voltas, vendo tudo, sentindo tudo o que
puder, tomando notas inumeráveis no próprio livro da mente, o escritor se torna
– caso o consiga – inconsciente. Seu subconsciente trabalha em alta velocidade,
de fato, enquanto a consciência cochila. Feita então uma pausa, o véu se ergue;
e eis que a coisa – a coisa sobre a qual ele deseja escrever – surge simplificada
e serena. Será querer demais da famosa declaração de Wordsworth, sobre a emoção
relembrada na tranquilidade, quando inferimos que com tranquilidade ele quis
dizer que o escritor tem de se tornar inconsciente antes de ser capaz de criar?”
(Virginia Woolf, A torre inclinada, 1940. In: O valor do riso e outros ensaios. São
Paulo: Cosac Naify, 2014. Tradução: Leonardo Fróes.)