(autoria desconhecida)
“Se eu fosse um geógrafo, um
fazedor de mapas, se, em vez deste relato, os editores da revista tivessem me
solicitado a proposta de um mapa perfeito, acho que não utilizaria rascunho nem
modelo, acho que faria um mapa sem fontes. Começaria do nada, de uma folha em
branco, e esse seria o grau zero do meu mapa perfeito. Meu mapa perfeito vai se
desenhando aos poucos, é infinito. Uma cidade infinita e ausente. Para entrar
nesse mapa, para inscrever-se nele, um lugar teria, antes, de deixar de
existir: destruído ou morto. A casa demolida, o poste tombado, o pântano
aterrado. Esquinas, ruas, parques. Tudo o que desaparecesse, e que fosse
irrecuperável. Hoje, a cada vez que dou um clique na minha máquina, penso
nisso, penso nesse mapa negativo, em um atlas negativo – de tudo o que acabou.
Talvez seja essa uma forma de dominar o tempo: o mapa perfeito é o mapa do que
não há mais.”
[Marcílio França
Castro. A história secreta dos mongóis.
In: Histórias naturais. Companhia das
Letras, 2016]