[Thaisa Figueiredo]
“O lar, a casa – algumas peças
exíguas, onde se apinhavam, de maneira sufocante, um homem, uma mulher
periodicamente prolífica, um bando de meninos e meninas de todas as idades.
Falta de ar, falta de espaço; uma prisão insuficientemente esterilizada; a
obscuridade, a doença, os cheiros.
(A evocação feita pelo
Administrador era tão vívida, que um dos rapazes, mais sensível que os outros,
só com a descrição empalideceu e esteve a ponto de vomitar.)
E o lar era tão sórdido psíquica
quanto fisicamente. Do ponto de vista psíquico, era uma toca de coelhos, um
monturo, aquecido pelos atritos da vida que nele se comprimia. Que intimidades
sufocantes, que relacionamento perigoso, insensato, obsceno, entre os membros
do grupo familiar! Insanamente, a mãe cuidava de seus filhos (seus filhos)... cuidava deles como uma
gata cuida de seus filhotes... mas como uma gata que falasse, uma gata que
soubesse dizer e repetir uma e muitas vezes: ‘Meu filhinho, meu filhinho!...’ E
ainda: ‘Meu filhinho, oh, oh, ao meu seio, as mãozinhas, a fome, este prazer
indescritivelmente doloroso! Até que, finalmente, meu filhinho dorme, meu
filhinho dorme com uma bolha de leite branco no canto da boca. Meu filhinho
dorme...’
– Sim – disse Mustafá Mond,
meneando a cabeça –, é natural que os senhores estremeçam.”
[Aldous Huxley, Admirável mundo novo.
Tradução: Vidal de
Oliveira.]