Vim de cidade simples, de família
simples também. Nessa terra, nesses abraços, tudo é muito bem definido e calmo.
Não há verão ou inverno, mas sol ou chuva. E o tempo vai embora e ninguém vê ou
se despede.
A
poeira parece suspensa: amarela as casas, os carros, as pessoas, sobretudo
aquelas que ainda nascerão; e estas já nascem marcadas pelo pó que nunca sai do
corpo ou das botas no chão vermelho. Poeirinha do ser inteiro. Homens, mulheres
e crianças empoeirados.
E
toda gente trivial quer saber do leiteiro que não passou, do vendedor de
laranjas que está passando, do amor que não passará. E a saudade é todo dia, há
tempo! Há dias para a porta, para as cadeiras, para o fim da tarde nas
calçadas, onde há também conversas, reencontros semanais, desencontros
cotidianos, e Deus, e família, e herança e folhas que caem.
E
as discussões beiram a filosofia, sem ciência, sem doutrina, apenas fé. Porque
fé não exige explicações, é fé e pronto. Para quê complicações de livros, pensadores
atormentados? A vida é só um fio bem fino prestes a arrebentar. Mas não
arrebenta, e Dona Rosa, Seu José também o sabem, e vivem. E sobem em árvores, e
cantam cantigas de roda, e choram e rolam no chão de tanto rir; eles brincam,
nadam juntos no rio, tornam-se indiozinhos outra vez, e dormem quietos para o
fio não arrebentar num suspiro prolongado.
De
pés sujos deitamos em cima da cama...
A cabeça não
pensa em coisas difíceis...
As folhas caem
do pé de folha...
Mas, silêncio!
Quem quer ver?