Há poucos anos
atrás, li numa revista sobre a periferia, sobre a poesia, sobre a poesia na
periferia. A reportagem falava sobre saraus semanais que aconteciam em favelas paulistas.
Os moradores se reuniam, cantavam músicas e declamavam poemas de própria
autoria. Havia silêncio, respeito, brilho nos olhos, calor no corpo inteiro:
desejo de libertação através das palavras miúdas. Aquilo me impressionou
fortemente. Escrevi um conto. Conto pouco, fraco, capenga das pernas, coitado
(dele, só restou o título deste post, que era também o seu). Hoje, por um
formidável acaso, reencontrei a causa daquela minha forte impressão – mas não
vou me atrever a escrever de novo, um conto daqueles.
O poeta e idealizador
do projeto de construir literatura, ou desliteratura,
na periferia atende pelo nome de Sérgio Vaz, meu novo herói de carne e osso.
Ele fundou, há dez anos, o Cooperifa: o tal projeto, a luz no túnel
aparentemente infinito. Há outros saraus em periferias de São Paulo, ele não
está sozinho. Mas se tornou o ícone, uma das pessoas mais influentes do país, o
pai; ídolo que não quer ser ídolo: quer ser gente com pé no chão, livre para
voar; uma daquelas pessoas que “agem no mundo como centelhas”; gente que move
montanhas, ou morros...
A flor da poesia
nasceu no asfalto, furou a náusea, retardou o enjoo, e agora todos sentam no
meio da rua para observá-la de perto. A flor é feia. Mas é uma flor. E só quem
já leu alguma coisa um dia sabe o quanto essa plantinha minúscula – ou coceira
intrometida, ou amor desmedido – transforma, faz nascer o jardim inteiro. Emociono-me
mais uma vez por saber do Sérgio Vaz, apaixonado. Por saber dos filhos dele,
mais apaixonados ainda. Choro de felicidade por saber que há esperança para
esse país pouco, fraco, capenga das pernas, coitado. E que ela, a flor verde, está
na favela, dentro da gente. Gente linda, inteligente.
Blog do Sérgio
Vaz, do Cooperifa: http://www.colecionadordepedras1.blogspot.com.br/
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