quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Onde vive a poesia


Há poucos anos atrás, li numa revista sobre a periferia, sobre a poesia, sobre a poesia na periferia. A reportagem falava sobre saraus semanais que aconteciam em favelas paulistas. Os moradores se reuniam, cantavam músicas e declamavam poemas de própria autoria. Havia silêncio, respeito, brilho nos olhos, calor no corpo inteiro: desejo de libertação através das palavras miúdas. Aquilo me impressionou fortemente. Escrevi um conto. Conto pouco, fraco, capenga das pernas, coitado (dele, só restou o título deste post, que era também o seu). Hoje, por um formidável acaso, reencontrei a causa daquela minha forte impressão – mas não vou me atrever a escrever de novo, um conto daqueles.

O poeta e idealizador do projeto de construir literatura, ou desliteratura, na periferia atende pelo nome de Sérgio Vaz, meu novo herói de carne e osso. Ele fundou, há dez anos, o Cooperifa: o tal projeto, a luz no túnel aparentemente infinito. Há outros saraus em periferias de São Paulo, ele não está sozinho. Mas se tornou o ícone, uma das pessoas mais influentes do país, o pai; ídolo que não quer ser ídolo: quer ser gente com pé no chão, livre para voar; uma daquelas pessoas que “agem no mundo como centelhas”; gente que move montanhas, ou morros...

A flor da poesia nasceu no asfalto, furou a náusea, retardou o enjoo, e agora todos sentam no meio da rua para observá-la de perto. A flor é feia. Mas é uma flor. E só quem já leu alguma coisa um dia sabe o quanto essa plantinha minúscula – ou coceira intrometida, ou amor desmedido – transforma, faz nascer o jardim inteiro. Emociono-me mais uma vez por saber do Sérgio Vaz, apaixonado. Por saber dos filhos dele, mais apaixonados ainda. Choro de felicidade por saber que há esperança para esse país pouco, fraco, capenga das pernas, coitado. E que ela, a flor verde, está na favela, dentro da gente. Gente linda, inteligente.



Blog do Sérgio Vaz, do Cooperifa: http://www.colecionadordepedras1.blogspot.com.br/

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