“A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá
sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se
ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro no pescoço, outro o ferro ao pé;
havia também a máscara de folhas de Flandres. A máscara fazia perder o vício da
embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dois
para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o
vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs
do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados
extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas
a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o
cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não
cuidemos de máscaras.”
(Machado de Assis, no
conto Pai contra mãe)
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