Decidi não mais divulgar minha produção literária aqui no
blog. A certeza do inacabamento de tudo tem me afligido. Não sou eu os poemas
de 2012, 2013, embora reconheça meu estado de espírito naquele tempo-espaço, motivações,
modo de escrever torto e incipiente. Ainda escrevo incipientemente. Mas aprendi
o valor da respiração do texto. Publicizar texto inacabado é como corromper sua
infância, juventude, abortá-lo. Preciso deixar que cresça. O tempo é longo.
Tempo para palavra amadurecer, tempo para mim. Amadureço. Ciclo infindável de
amadurecimento. Tudo restará inacabado, sei. Mas há um momento de cansaço do
texto, derrota numa guerra sem fim. Este é o momento da publicidade, se vier;
ponto em que desisto. Desistência porque morto. Palavra mata.
Vladimir Veidlé, escritor e crítico que conviveu com a poeta
russa Anna Akhmátova (1889-1966) conta o seguinte sobre o processo criativo
dela:
“Ela me contou que nunca usava lápis e papel ao elaborar os
seus poemas. Trabalhava em cada verso durante muito tempo; porém, só os anotava
depois de o poema ter chegado à sua forma final, às vezes até uma ou duas
semanas depois de já o ter recitado em público para seus amigos. Dizia que o
processo de escrever, de segurar uma caneta na mão, lhe parecia cansativo e,
por isso, não gostava de escrever cartas. Sua letra era laboriosa e
desajeitada, como acontece com as pessoas que não estão acostumadas a escrever.
Lembro-me de que, uma vez, lhe pedi que pusesse dedicatórias em dois livros que
me tinha dado. A primeira, ela já fez bem curtinha; quando chegou na segunda,
já cansada, limitou-se a assinar seu nome. Era muito típico de sua maneira de
ser, essa peculiaridade de memorizar o poema por longo tempo antes de confiá-lo
ao papel. Com que atenção ela deve ter ouvido a música interior das palavras,
com que modo incorruptivelmente terno deve tê-las carregado consigo, através de
sua longa vida, até a morte.”
É desse tempo de calma e espera que preciso. Escrever
demanda isso de mim. Paciência. Compensarei a falta de escoamento da produção
tentando publicar em revistas e suplementos literários o que alcançar esse
tempo de amadurecer cíclico. Sabendo não haver amadurecimento completo, reformulo:
escoarei palavra que alcançar o tempo de cansaço finito. O resto é ansiedade, tentativa,
desespero. Desespero também possui seu valor, decerto. No entanto, opto pela
escrita da calma. Receio que Anna Akhmátova somente escrevia seus poemas no
papel quando já estivesse cansada, morta. Assumir os suicídios.
ps: quem se
interessar por algum texto em particular e quiser utilizá-lo para algo, basta entrar
em contato por aqui, pelo facebook, ou por e-mail:
douglasdeoliveiratomaz@gmail.com
(Aqui onde tudo termina, Chana de Moura, 2014)