“Bopp
(…) voltou a se ocupar com a paisagem. Os campos pareciam ser
sempre os mesmos. Os mesmos animais. As mesmas poucas e pequenas
casas. As mesmas pessoas. Bopp se lembrou de que, quando era pequeno
e o levavam a viajar de trem, seu pai o fazia contar as vacas que via
no pasto. Isso o entretinha a viagem toda. Mas também o angustiava,
porque ele não conseguia enumerar todas e se perdia na soma. Era só
terminar de contar as que estavam mais próximas à linha do trem que
já perdia de vista as que ficavam em segundo plano. Se começava a
contagem pelas do fundo, não obtinha melhor resultado: quando
chegava às da frente, a frente não era mais a mesma. A paisagem
mudara. O trem já tinha andado e deixado aquelas vacas para trás.
Então ele se desesperava. Queria recomeçar do zero, mas não era
mais possível, não tinha como fazer o trem voltar. Quando se perdia
mais de uma vez, quando se perdia duas ou três vezes, ele, que até
aquele instante ria com seu riso livre de menino, se botava a chorar.
Chorava alto porque não sabia mais por quantas vacas tinha passado e
queria provar ao pai que era capaz de contar todas as vacas que visse
na estrada. Mas nunca conseguia. Nessas horas, seu pai sorria e o
abraçava apertado. Dizia para fingirem que a viagem começava
naquele ponto em que estavam e propunha que os dois reiniciassem
juntos a contagem das vacas. Quando eles se perdiam ou quando não
eram rápidos o bastante para contar todas, os dois riam, Bopp
chorava de tanto rir, e, quando davam por si, já tinham chegado ao
destino.”
(Verônica
Stigger, Opisanie Swiata.
Cosac
Naify Editora, 2013)
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