“E considerando eu isto
bem, estou capaz de afirmar que me pesa no íntimo da alma de haver abraçado
este exercício de cavaleiro andante em tempos tão detestáveis como estes em que
vivemos agora; porque, ainda que eu sou daqueles a quem não há perigo que meta
medo, contudo muitas vezes me sinto receoso de que a pólvora e o chumbo me
roubem a ocasião de tornar-me famoso e conhecido pelo valor do meu braço e
pelos fios da minha boa espada em todos os ângulos da terra; (...)
Em todos os que o
escutavam sobreveio grande pena, vendo que um homem, ao parecer, dotado de
muita inteligência e que sabia discorrer com tanto acerto nas cousas de que
tratava, perdia completamente a tramontana logo que falava sobre a negregada e
desgraçadíssima tolice da cavalaria andante.”
(Miguel de
Cervantes, Dom Quixote de La Mancha, 1605)
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