“Nas paredes do quarto, apenas
musgo. Um cheiro fétido de coisas guardadas. Objetos esverdeados pelo mofo.
Tudo já degradado, tudo velho, antes mesmo do tempo. No centro do quarto, a
minha cama. De madeira apodrecida, nem sei como ainda se mantém de pé. No
centro da cama, o meu corpo. Dilacerado, aberto por feridas em carne viva.
Repleto de nódoas roxas e amarelas. De furúnculos. Meu corpo carcomido pela
ancestralidade do quarto. Impossibilitado de se movimentar. No centro do corpo,
a máquina de escrever. O teclado quase todo apagado, a tinta por acabar. Minhas
mãos enxovalhadas pelo sangue seco teclam, uma a uma, as letras do que escrevo.”
(Tatiana Salem Levy, A chave de casa, Ed. Record, 2007)
Nenhum comentário:
Postar um comentário