Aqueles que só conheceram o mar pelo rumor que faz um livro
quando tomba
os que só sabem da floresta o que ensina o farfalhar das
páginas
os que veem o mundo como um grande volume ilustrado
no entanto sem legendas sem índices remissivos sem notas
explicativas
os que conhecem as cidades apenas pelo nome
e acham que cabem no nome muitas coisas
inclusive certas ruas vazias de madrugada
as casas prestes a serem demolidas
os mesmos talvez que pensam que um corpo pesa tanto
na cama quanto no pensamento
aqueles como nós para quem o desejo
não é prenúncio mas já a aventura
os que se reconhecem na tristeza
das piscinas vazias à beira-mar
[Ana Martins Marques, O livro das semelhanças, Companhia das
Letras, 2015]
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