terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Tentativas de registrar "Artur verde"



 



1)

Ele veio:

“Artur verde”, meu livro-conto, diário artesanal, foi publicado em 2020 pela Alecrim e lançado na Feira Miolos no dia 5 de dezembro, pelo Instagram.

Ainda estou tentando processar o que foi publicar um livro nos finalmentes de 2020, esse ano vertigem. Seria uma síntese? Um recomeço? Uma pequena fogueira? Não sei bem.

O que sei é que ele veio.

Artur é um forasteiro que chega e traz a escrita. Entra em casas desconhecidas e pede abrigo. O primeiro passo é decidirmos se iremos ou não abrigá-lo.


2)

Trata-se de um conto em forma de diário. Assim, desde o princípio, o projeto editorial de Iago Passos esteve atento ao movimento das mãos.

As mãos da protagonista, hesitantes entre o relato do cotidiano, a confissão e o silêncio. As mãos do autor, que criam o corpo da personagem, feito de palavras. As mãos do editor, que primeiro trabalham num software, depois imprimem, dobram, furam, costuram, prensam, refilam, organizam o resultado numa estante. As mãos do(a) leitor(a), que sentem a textura do papel, tocam a linha da costura, passam a página, grifam, desatam o segredo do diário alheio.

A Alecrim retoma, então, a dimensão manual do livro, experimenta a edição como ofício artesanal, o espaço editorial como oficina, lugar onde um objeto se cria.

As mãos que filmam e fotografam o processo são de Marco Marinho.






3)

No processo de feitura, aprendi com Iago Passos a editar junto. Aprendi também que editar é pensar com as mãos.





4)

Sinopse:

Um diário de 1993 relata a chegada de Artur ao cotidiano de um casal que acaba de se mudar para a serra. A partir da aproximação gradativa desse forasteiro, o conto de Douglas Ferreira passa a acompanhar as ressonâncias dessa presença no interior da protagonista, que tenta, através da escrita, compreender o que se passa ao redor e se comunicar.


5)



“Entramos numa trilha, e quando me aprofundo dentro da mata assim, me lembro da minha mãe, que sempre se indispôs com a ideia de que eu voltasse para o interior e se sentiu ainda mais ofendida quando lhe disse que eu moraria na zona rural de uma cidadezinha. Até hoje ela resiste em me visitar. Então quando penetro numa mata assim, sinto que estou desaparecendo dentro do mapa, não consigo mais localizar esse ponto específico do mundo, não há mais a referência da estrada, dos municípios, dos nomes, estou entre uma cidade e outra, uma serra e outra, matas fechadas são apenas matas fechadas, sem endereço, se fôssemos outra civilização certamente esse lugar seria batizado, descrito, cartografado em papel, pedra ou chão, quando não posso mais me localizar penso que não conseguiria dizer à minha mãe: eu estive ali, um lugar desconhecido para ela é a inalcançável abstração, desperdício de tempo, insegurança, se eu morresse ali dificilmente encontrariam meu corpo, cogito, e em alguns trechos a trilha desaparece para só lá na frente reaparecer.”

(Trecho)


6)

Assista à live de lançamento aqui


***


Artur verde, Douglas Ferreira (@douglasferreira_ot)
Conto
Alecrim, 2020 (@alecrym)
Projeto gráfico: Iago Passos (@ia.go_)
Fotos e vídeos: Marco Marinho (@marcomarinhoph)


>>> Como adquirir?

Através deste link do Pagseguro ou diretamente pelo instagram da Alecrim ou do próprio autor


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