Somos todos muito bitolados e não
entendemos o quão complexas são as coisas. E não digo complexas no sentido de
difíceis, mas no sentido de amplas. Não existem apenas dois lados de
determinadas situações, mas vários. Infelizmente, não nos aprofundamos
suficientemente em alguns assuntos para conhecer todas essas faces – e nem é possível
conhecê-las todas em todos os casos. No entanto, é possível deixar de pensar de
forma tão mesquinha e limitada e começar a entender a grandeza das coisas.
Documentários têm
essa característica muito forte: fazer-nos enxergar além. Com 69 – Praça da luz não foi diferente. O
que pensar de mulheres, com idade avançada, que se prostituem? Por que elas
fazem isso? Falta de opção, pobreza, azar na vida? Talvez, a princípio, mas não
é só isso. A Geisa, a Silvania, a Ana Zilda, a Emília e a Claudete deste
documentário o fazem porque querem, porque gostam. Sendo assim, por que não?
É na Praça da
Luz, em São Paulo, que essas mulheres – tão surradas pela vida – trabalham,
sustentam-se e são felizes. Obviamente não dá para fazer dessa felicidade uma
regra e eu não estou levantando aqui a bandeira da prostituição. Estou apenas
satisfeito em conhecer mais um lado, inusitado talvez, mas real. Totalmente
real.
E se é assim
que elas encontram a beleza da vida e sentem prazer em vivê-la, que assim seja.
O que não devemos, pretensiosos que somos, é tentar demarcar o que é certo e o
que é errado e querer encaixar todo mundo ali. Pois é o que fazemos quando
estamos de viseiras. Quando não percebemos que todo mundo é cada um. E que cada
um ainda é muito, porque somos tanto.
Assistir
a documentários como esse é mais do que conhecer, é aprender a respeitar a
infinidade do outro, das outras, dessas mulheres – calejadas, e absolutamente dignas
– da Praça da Luz.
Como o assunto é um documentário,
hoje não irei indicar músicas, mas outro. Este se chama Dois Mundos e se trata de deficientes auditivos que fizeram transplante ou usam
aparelho e que agora podem ouvir. O mais interessante – e o raciocínio
sobre novas realidades continua aqui – é perceber que alguns deles, mesmo agora
conhecendo os sons, preferem o silêncio.
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