(Antônio Dias, Ouro Preto - MG)
Para Fernando
Pessoa, “navegar” é sinônimo de criar. O mesmo verbo para mim, mero mortal,
conserva o seu significado original: “viajar pelo mar”. Este “mar” pode ganhar
também inúmeros significados além daquele que diz sobre a sua imensidão azul:
pensamentos, um outro alguém, a mente humana, a internet, ou uma cidadezinha
qualquer. Dessa forma, Pessoa, concordo contigo. “Navegar é preciso”.
Eu tenho uma
espécie de espasmo quando conheço um novo lugar. Não, não começo a tremer ou
algo assim, mas é como se uma onda eletroqualquercoisa passasse por dentro de
mim e registrasse aquele local. Acontece sempre quando entro na casa de alguém
pela primeira vez, ou quando estou numa nova cidade. Esse “registro” funciona
para as coisas visíveis, para o ambiente como um todo. Mas ele não ocorre com
as pequenas coisas, as sutilezas de cada lugar; aqueles detalhes mínimos que
diferenciam cada canto deste mundo, que os tornam especiais.
É a neblina
que te recepciona pela manhã; as ruas estreitas e ainda em calçamento; os
postes e a arquitetura típicos de algum tempo passado; a moça brincando com o
seu bebê na janela colonial; o senhor tocando jazz na praça principal. Sutil é o ranger do assoalho de madeira
das construções antigas; é o silêncio dos museus; a varanda das casas que nos
convidam a contemplar. A charmosa falta de planejamento que produziu uma cidade
em labirinto. O contraste do semáforo, mecanismo moderno, em meio a um lugar
que parou no tempo. Lugar em que as esquinas sussurram histórias e a cultura
está no ar que se respira. Terras de amor em poesia, de vida em ladainha, do
aconchego da solidão. Onde o apito na estação de trem é o túnel que te
transporta ao passado. Onde a liberdade, tão cara, foi deixada como herança.
São de Ouro
Preto e Mariana, nas Minas Gerais, todas essas sutilezas. São todas um convite
à imersão, ao maior dos escapismos, ao navegar pleno e sereno que a história e a
arte podem proporcionar.
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