sábado, 24 de novembro de 2012

Drummond sobre Machado. Machado sobre os olhos.


“Sei tão pouco a respeito de olhos e de mulheres que os portam! Muito menos que Machado de Assis, por exemplo, que, sem ser oftalmologista ou opticista, poderia reivindicar título de doutor em olhos, e, o que é mais, em olhos femininos. Não há mulher que ele pusesse em conto ou romance, de quem não informasse precisamente a cor, tamanho ou expressão dos olhos: garços, vulgares, de touro, mortais, da capa da última noite, bonitos de perto, submissos, viçosos, noturnos sem mistério, cheios de mistérios do Nilo, cálidos, grandes que deviam ter sido infinitos quando moços, literalmente de fogo, capazes de paixão e mando, opacos, compridos e agudos, menos sabedores mas dotados de um mover particular – para não falar nos faladíssimos de ressaca, ou de cigana oblíqua e dissimulada. (...) Não resta dúvida: técnico em olho de mulher, o criador de Capitu.”

(Drummond, na crônica O outro nome do verde, retirada do livro Seleta em prosa e verso, mas orginalmente publicada no Caminhos de João Brandão)

Nenhum comentário:

Postar um comentário