Vida escancarada. Nos beijamos no
meio do mundo e eu me senti exatamente assim: no centro do mundo inteiro,
dançando ao som da Orquestra Brasileira
de Música Jamaicana, como se a Jamaica fosse logo ali e o mundo inteiro
fosse vizinho de si mesmo. Nossos corpos se beijaram, mas foi assim que me
senti: transando em espírito.
Minha cor preferida é verde, a
sua é vermelho, atualmente. Minha cor preferida é verde desde sempre, pois
pouco mudo, desde os Power Rangers
sou assim: esverdeado. Sua cor preferida se altera conforme o humor, a estação,
assim como também mudam seu cabelo, seu personagem, sua fantasia. Libra e
Touro. O que isso significa? Não confio nos astros, confio em mim: apontando
para a cabeça, como se fôssemos apenas cabeça e não peito e não sangue e não
coração bombeando sangue. A cidade é linda durante a noite. Cada luz dessas é
uma pessoa, ou várias, com suas crises e seus ataques repentinos de riso. Não
estamos sozinhos.
Os beijos e carícias são parte de
um legado. Te beijando assim, em público, leãozinho, me sinto carregando nos
ombros (e nos lábios) a história e as tardes de domingo e as manhãs de segunda
daqueles que se beijaram e acabaram machucados, ou mortos. Me sinto
responsável. Te beijo por eles. Te beijo por nós. Nesta noite grande (e cada
toque é uma oração para que ela não se acabe), te beijo pela gente, pelo meu
coração cansado de estar só, por nossas crises que podem ter fim. Hoje.
Na sua camisa, o desenho de uma
atriz que desconheço. Não é sua preferida, eu sei, mas gostaria de gravar-lhe o
nome, o nome da testemunha. Você me falou duas vezes, fiquei envergonhado de
perguntar pela terceira, confessando a semi-embriaguez de instantes passados.
Alice alguma coisa, talvez? Me envie uma carta informando. Por pombo-correio.
Minha cor preferida é
verde,
a sua é vermelho,
atualmente.
Libra e Touro.
E a cidade.
E os beijos.
E o carnaval.
E a noite:
quenãoseacabe.
Existe uma cidade em Minas que se
chama Passa Tempo. Os homens não entendem a linguagem das mulheres. 500 contos
por uma perereca: não é assim, cara, não é assim. A garota com um colar de
pérolas está mais bonita do que um milhão de mulheres. Viva o amor. Não somos
um desperdício, estamos nos aproveitando. O amor não é espetacularia. Deus salve
a minha alma. Sou de Manaus. Sejam muito felizes, vocês. Existe uma cidade em
Minas: Passa Tempo.
Gosto de te ver em fragmento,
como no seu quarto, ao lado do espelho grande, pequenos espelhos. Enxergar-te
em pedaços, em cacos. Gosto de ver apenas seu olho, um quarto do seu cabelo,
abaixo os olhos e vejo seu sorriso de menino, leãozinho. É muito triste fazer
teatro. No palco, não tenho outra
vida, é a minha vida mesmo, de verdade, sem amarras, sem texto decorado. Mascarada
é a realidade. Pessoas são personagens. Frida Kahlo.
Vamos nos reencontrar antes da
Espanha, antes do Almodóvar? Tenho que ir. O nome do disco é Transa. Caetano é o nome do meu gato.
Ele sumiu, ingrato. Sinto saudade. Pra
quê rimar amor e dor? Hein? Hein? Tenho que ir. A noite escapa. Mas sabe
qual é o segredo? A noite não acabou. Para a fitinha de Senhor do Bonfim, fiz
três vezes o mesmo pedido: não acordar, não acordar, não acordar. O dia vem
chegando, leãozinho, ele não é vermelho, nem verde, nem negro: ele é rosa. Rosa
de arame farpado.
O segredo é que não sou do
Amazonas, sou de Passa Tempo, moro em BH, cuide dessa tosse, pare de fumar,
quando for para a Espanha me leve junto contigo, não suma no mundo, o dia vem
chegando, mas a noite não acabou, não vou acordar, sussurrando:
n ã o v o u a c o
r
d a r.
Você fez tudo diferente e bom.