quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Este texto é uma tentativa

Vida escancarada. Nos beijamos no meio do mundo e eu me senti exatamente assim: no centro do mundo inteiro, dançando ao som da Orquestra Brasileira de Música Jamaicana, como se a Jamaica fosse logo ali e o mundo inteiro fosse vizinho de si mesmo. Nossos corpos se beijaram, mas foi assim que me senti: transando em espírito.

Minha cor preferida é verde, a sua é vermelho, atualmente. Minha cor preferida é verde desde sempre, pois pouco mudo, desde os Power Rangers sou assim: esverdeado. Sua cor preferida se altera conforme o humor, a estação, assim como também mudam seu cabelo, seu personagem, sua fantasia. Libra e Touro. O que isso significa? Não confio nos astros, confio em mim: apontando para a cabeça, como se fôssemos apenas cabeça e não peito e não sangue e não coração bombeando sangue. A cidade é linda durante a noite. Cada luz dessas é uma pessoa, ou várias, com suas crises e seus ataques repentinos de riso. Não estamos sozinhos.

Os beijos e carícias são parte de um legado. Te beijando assim, em público, leãozinho, me sinto carregando nos ombros (e nos lábios) a história e as tardes de domingo e as manhãs de segunda daqueles que se beijaram e acabaram machucados, ou mortos. Me sinto responsável. Te beijo por eles. Te beijo por nós. Nesta noite grande (e cada toque é uma oração para que ela não se acabe), te beijo pela gente, pelo meu coração cansado de estar só, por nossas crises que podem ter fim. Hoje.

Na sua camisa, o desenho de uma atriz que desconheço. Não é sua preferida, eu sei, mas gostaria de gravar-lhe o nome, o nome da testemunha. Você me falou duas vezes, fiquei envergonhado de perguntar pela terceira, confessando a semi-embriaguez de instantes passados. Alice alguma coisa, talvez? Me envie uma carta informando. Por pombo-correio.

Minha cor preferida é verde,

a sua é vermelho, atualmente.

Libra e Touro.

E a cidade.

E os beijos.

E o carnaval.

E a noite:

quenãoseacabe.

Existe uma cidade em Minas que se chama Passa Tempo. Os homens não entendem a linguagem das mulheres. 500 contos por uma perereca: não é assim, cara, não é assim. A garota com um colar de pérolas está mais bonita do que um milhão de mulheres. Viva o amor. Não somos um desperdício, estamos nos aproveitando. O amor não é espetacularia. Deus salve a minha alma. Sou de Manaus. Sejam muito felizes, vocês. Existe uma cidade em Minas: Passa Tempo.

Gosto de te ver em fragmento, como no seu quarto, ao lado do espelho grande, pequenos espelhos. Enxergar-te em pedaços, em cacos. Gosto de ver apenas seu olho, um quarto do seu cabelo, abaixo os olhos e vejo seu sorriso de menino, leãozinho. É muito triste fazer teatro. No palco, não tenho outra vida, é a minha vida mesmo, de verdade, sem amarras, sem texto decorado. Mascarada é a realidade. Pessoas são personagens. Frida Kahlo.

Vamos nos reencontrar antes da Espanha, antes do Almodóvar? Tenho que ir. O nome do disco é Transa. Caetano é o nome do meu gato. Ele sumiu, ingrato. Sinto saudade. Pra quê rimar amor e dor? Hein? Hein? Tenho que ir. A noite escapa. Mas sabe qual é o segredo? A noite não acabou. Para a fitinha de Senhor do Bonfim, fiz três vezes o mesmo pedido: não acordar, não acordar, não acordar. O dia vem chegando, leãozinho, ele não é vermelho, nem verde, nem negro: ele é rosa. Rosa de arame farpado.

O segredo é que não sou do Amazonas, sou de Passa Tempo, moro em BH, cuide dessa tosse, pare de fumar, quando for para a Espanha me leve junto contigo, não suma no mundo, o dia vem chegando, mas a noite não acabou, não vou acordar, sussurrando:

                                              n  ã   o    v     o     u      a     c    o    r     d      a     r.

Você fez tudo diferente e bom. 

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