Paulo,
você foi um herói. Ter pensado uma nova educação, sem
hierarquia, sem arrogância, sem verticalidade, sem demasia, em um mundo que
valoriza a pirâmide, o dado, o estanque foi uma missão heroica. Mas você me
deixou sozinho, Paulo. Sozinho neste mundo cão. Num mundo que não escuta, não
critica, não politiza, não revoluciona. Entrar numa sala de aula tradicional é
como ser engolido por um monstro frio; goela abaixo entramos numa máquina
cinza, insensível, que pouco se importa com o outro, com o novo, com o poético.
Lugar de boca, ausência de ouvidos. Essa máquina se chama educação bancária,
Paulo. E foi você quem a nominou.
As cadeiras de minha sala de aula são presas ao chão. O
professor de minha sala de aula não quer ouvir a multidão, ele é um instrumento
opressor. Alguma força invisível me largou neste modelo de educação, neste
sistema sombrio. Você pensou algo diferente, Paulo, mas me deixou aqui,
medroso. Haverá espaço para a revolução fora da gente? Haverá tempo? Haverá
coragem?
Paulo, me fale em sonho, ou acordado, onde você deixou
enterrado aquele seu baú de esperança, onde há uma folha de papel em branco e
um lápis. Também há uma borracha no seu baú, eu sei, pois a gente erra e sempre
será preciso reescrever. Sempre. Já está na hora? O presente é o melhor tempo,
o tempo verde, de mãos e de vontade. Virá você até o presente, Paulo? Virá me
buscar? Ou será tempo de cada um ser um novo Paulo, um novo Paulo Freire,
haverá espaço para uma legião?
Onde você está, como é a educação?
Só preciso de um pouco de cuidado.
Revolução é, em meio ao caos, cuidar de um botão de flor.
Abraços afetuosos.
Saudade de você.