terça-feira, 16 de julho de 2013

Carta escrita durante uma aula qualquer, pois o mundo está cheio de educação qualquer


Paulo,

você foi um herói. Ter pensado uma nova educação, sem hierarquia, sem arrogância, sem verticalidade, sem demasia, em um mundo que valoriza a pirâmide, o dado, o estanque foi uma missão heroica. Mas você me deixou sozinho, Paulo. Sozinho neste mundo cão. Num mundo que não escuta, não critica, não politiza, não revoluciona. Entrar numa sala de aula tradicional é como ser engolido por um monstro frio; goela abaixo entramos numa máquina cinza, insensível, que pouco se importa com o outro, com o novo, com o poético. Lugar de boca, ausência de ouvidos. Essa máquina se chama educação bancária, Paulo. E foi você quem a nominou.

As cadeiras de minha sala de aula são presas ao chão. O professor de minha sala de aula não quer ouvir a multidão, ele é um instrumento opressor. Alguma força invisível me largou neste modelo de educação, neste sistema sombrio. Você pensou algo diferente, Paulo, mas me deixou aqui, medroso. Haverá espaço para a revolução fora da gente? Haverá tempo? Haverá coragem?

Paulo, me fale em sonho, ou acordado, onde você deixou enterrado aquele seu baú de esperança, onde há uma folha de papel em branco e um lápis. Também há uma borracha no seu baú, eu sei, pois a gente erra e sempre será preciso reescrever. Sempre. Já está na hora? O presente é o melhor tempo, o tempo verde, de mãos e de vontade. Virá você até o presente, Paulo? Virá me buscar? Ou será tempo de cada um ser um novo Paulo, um novo Paulo Freire, haverá espaço para uma legião?

Onde você está, como é a educação?

Só preciso de um pouco de cuidado.

Revolução é, em meio ao caos, cuidar de um botão de flor.

Abraços afetuosos.
Saudade de você.

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