domingo, 5 de janeiro de 2014

Uma mulher a menos


“Quando me perguntou, eu baixei os olhos. Para ver se minhas pestanas mostravam os dias e os tempos pelos quais passei. Quando lamentou, eu sorri. Para mostrar os restos que ainda sobravam em meus dentes. Quando me beijou, cuspi. Para saber se seu amor é branco, vermelho ou transparente.

Para os idiotas que não sabem ler, existe o alfabeto. E para quem não pode perceber isto é um livro. Para quem precisa escrever, existe a vida e suas impressões digitais. Seus dez dedos trabalhando sobre mim contam uma história mais bonita do que sobre o papel.

Dói menos do que penso, fica marcado para sempre. Edição após edição, a vida nos ensina novas formas de morrer. Tento todas. E no final de cada uma tenho certeza de que poderá haver mais uma. Será que terminei? Será que terminei?”

(Trecho retirado do romance A morte sem nome, de Santiago Nazarian)

Nenhum comentário:

Postar um comentário