“Quando chego em casa, daí posso pensar na morte. Só um
pouquinho. Não muito. Não me preocupo com a morte ou não tenho pena de morrer.
Parece uma tarefa desgraçada. Quando? Na próxima quarta-feira à noite? Ou
quando estiver dormindo? Ou por causa da próxima terrível ressaca? Acidente de
trânsito? É uma carga, é uma coisa que deve ser feita. E vou morrer sem
acreditar em Deus. Isso vai ser bom, posso enfrentá-la de cabeça em pé. É uma
coisa que você tem que fazer, como calçar os sapatos de manhã. Acho que vou ter
saudades de escrever. Escrever é melhor que beber. E escrever enquanto você
está bebendo sempre faz as paredes dançarem. Talvez haja um inferno, será? Se
houver, lá estarei e sabem o que mais? Todos os poetas estarão lá, lendo seus
trabalhos e eu vou ter que ouvir. Serei afogado por sua elegante vaidade, por
sua transbordante autoestima. Se houver um inferno, este será o meu: um poeta
atrás do outro lendo sem parar...”
(Charles Bukowski, em diário – 16/04/92. Trecho retirado do livro O capitão saiu
para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio, 1998)
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