Como escrever sobre um livro que é puro vazio?
Os dois personagens principais, apenas referidos como “Ele” e “Ela”, amam o mesmo homem: um estrangeiro de olhos azuis cabelos pretos.
Os dois amam um homem que se foi.
Os dois se encontram, choram, choram, lamentam cada qual a sua perda, sem saberem que compartilham o mesmo objeto de amor.
Ele a convida para passar as noites em sua casa. Ela aceita, em troca de dinheiro. Lá, eles se olham, dormem, trocam diálogos disfuncionais, não se escutam, sobretudo não se escutam, choram.
Estão à beira-mar. As ondas quebram na parede do quarto. Ela fica nua em sua frente, abaixo de uma luz central, como num teatro de um único espectador.
Eles não se tocam. Eles não se amam. Eles se amam.
Trata-se de um encontro estranho, que não serve para nada.
A ausência, a ignorância, a repetição, o esvaziamento ocupam a centralidade da narrativa. Eles amam um personagem ausente, mas tão presente em sua fantasmagoria que os faz chorar. Eles tecem para si, noite após noite, a mortalha de um amor inalcançável, que “nunca mais voltaria às praias da França”.
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