Tenho apreço à realidade. Apesar de necessitar do escapismo que a leitura e a escrita proporcionam. Mas mesmo nessas fugas, ainda prefiro os caminhos concretos aos fantasiosos demais. Sobretudo, gosto de descobrir novas realidades. Essa semana, descobri a do Gustave Courbet.
Pintor francês do século XIX, Courbet inaugurou o movimento realista nas artes. O argumento é bem plausível: ele dizia que só podia pintar aquilo que via. Assim como eu só gosto de ler e escrever sobre aquilo que há. Gostei desse cara.
O pintor de Adormecidas e Os quebradores de pedra desprezava os acadêmicos e suas obras padronizadas. As tendências vigentes na época obedeciam, ainda, ao rigor clássico, inclusive temático: os nus não eram nus de fato; Afrodites e Apolos ainda eram escolhidos como modelos. Courbet disse “não mais” a esse tipo de arte e pintou A origem do mundo, em 1866:
Esta, sem dúvida, é a sua obra mais marcante, por motivos óbvios. Porém, ainda não é a minha preferida. O quadro que me fez fixar os olhos mais demoradamente no seu autor foi Autorretrato, 1845.
O olhar desesperado do pintor encontrou os meus olhos também desesperados. Fiquei ali olhando, paralisado, tentando decifrar as angústias dele, já sabendo as minhas. Encontrei-me naquela expressão forte, apesar de não me conseguir expressar tão eloquentemente. O Gustave Courbet que encontrei, pintado e amedrontado, foi a minha voz, as minhas cores, a minha face, eu.
Autorretrato
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