domingo, 25 de dezembro de 2011

O que foi o meu 2011



                Sempre gostei de retrospectivas. Na verdade, gosto mesmo é de lembranças, de saudade. E quanto a isso, nós somos problemáticos porque só damos o devido valor ao presente depois que ele passa, e só nos resta recordar.  

                2011 foi um ano morno para mim, mas decisivo. Terminei o ensino médio e agora a vida está por conta minha, sou responsável pelo chão em que pisarei daqui pra frente. Essa perspectiva (ou a falta dela) me fez ficar deitado na minha cama, estático, após o fim de tudo, com medo de me levantar, abrir a porta do quarto e encarar a vida, olho no olho. 

                Medo passageiro. Agora a porta do quarto está aberta. Quero saber o que virá. Quero fazer o que virá.

                Mas este post é retrospectivo e não vou ficar aqui especulando o meu futuro, porque não adianta. Então, ao que interessa...

                O ano começou bem, realizando um sonho: entrar numa piscina de bolinhas. Todos nós temos alguns vazios na infância: nunca ter jogado SuperMario, ou nunca ter brincado de beyblade, ou nunca ter assistido ao Castelo Rá-Tim-Bum. Um dos meus foi o de nunca ter me aventurado entre bolinhas coloridas. Pois bem, eis que com os meus dezessete anos, o vazio foi preenchido. Nunca é tarde para acordar nossas crianças íntimas. Agora só falta a roda gigante.

 No carnaval da família, realizando um sonho


                Os dezoito anos são uma idade fetiche. Sonhamos com a liberdade, a juventude e o vigor que essa fase da vida sugere. Porém, o meu não foi isso tudo não. Ainda sou dependente financeiramente da família, ainda não saí de casa, não tenho nada em meu nome além de revista semanal e pensando bem, não tenho nada além de alguns livros, um blog, e algum conhecimento. Mas quem se importa? Tenho amigos. E foi com eles que comemorei a chegada dessa idade de ilusões. 

Dezoito anos com cara de cinco.


                E depois de um longo semestre de estudos pesados... as férias de Julho! Reencontrei os amigos migradores, tocamos violão, respiramos ar puro, corremos, acordamos junto com o sol, cantamos bossa nova, abrimos padarias, descobrimos museu, jogamos frescobol, nadamos no Rio à noite, assistimos a filmes...  E preenchi mais um vazio da infância: soltei pipa. Melhor, fabriquei e soltei pipa pela primeira vez. Foi transcendental. Ver uma pipa voando é voar junto com ela. Foi uma das experiências mais bonitas da minha vida. Talvez por todo o contexto de repressão dos prazeres que o estudo impõe, talvez por ter acontecido com grandes amigos e na beira do rio, pela manhã, com céu azul e vento bom, ou talvez porque é bonito para todo mundo e foi também para mim, só isso. Querendo nunca mais me esquecer da minha pipa verde, fotografei-a no ar. Só então percebi que ela estava alta demais... E eu também.


 Voando
 
                

 Ano de experimentações, de primeiras vezes. Esse é o meu primeiro origami, feito com muita ajuda, passo a passo, numa mesa de bar e com guardanapos. Só não me peça para fazer de novo...

  Pássaros tortos de guardanapo

 
                Ouro Preto, aqui em Minas, é patrimônio histórico da humanidade. Mais do que isso, a cidade é patrimônio de todas as almas melancólicas como a minha. Cidade de brumas, de cinza, de saudosismo e pesar. Cidade linda. Já a conhecia, mas esse ano a revisitei e me apaixonei ainda mais. Não é cidade de aconchego, mas de incômodo, de frieza, de olhar para o passado e olhar para si ao mesmo tempo. Cidade daquela solidão dos livros, da lareira, do vinho seco.  Cidade de mim. 

Cidade-eu


                Criei o blog esse ano, com o objetivo de fugir dos compromissos, do cotidiano sufocante e ter um lugar meu, um quarto onde posso bagunçar e organizar a bagunça do jeito que quiser. Um lugar em que estou quando quero somente estar. Onde pesquiso o que eu gosto, falo sobre assuntos que me interessam e sobre mim, e pouco me importa se ninguém quer saber sobre mim. Eu quero.

Meu quarto


                E de toda essa história de ensino médio e recreio estou levando comigo o mais importante de tudo: os amigos que fiz. E fiz bem feito.
A turma da escada

               
Sempre soube que eu sou uma pessoa de esquerda. Nesse ano treinei essa minha vocação com a minha própria escola, que deixou muito a desejar na minha educação. Na verdade, o treinamento se deu durante os longos quatro anos em que estudei lá, mas culminou no último dia de aula, depois de muita dor de cabeça, stress, reclamação e, sobretudo, vontade de mudar as coisas. Fiz o meu primeiro protesto com plaquinhas. Tenho quase certeza de que, apesar da gritaria, da batucada, do grito de guerra e do discurso inflamado pouco ou quase nada mudará. Infelizmente, a imagem que guardo do fim do meu período escolar sou eu saindo do prédio da última escola e ela desmoronando no fundo.

 A primeira plaquinha de muitas


                Para finalizar o ano, pintei a minha primeira, e talvez única, tela – inspirada por um conto que escrevi e já postei aqui: Sr. Não Sei. O conto fala sobre aquelas pessoas que vemos sempre, mas não sabemos o nome e quem são. A pintura também é sobre isso, mas ela ganhou sentidos múltiplos e maiores, pelo menos para mim. Pendurei-a na cabeceira da minha cama e quando a vejo todos os dias, lembro-me do existencialismo de Sartre e da esfinge da história de Édipo: “Decifra-me ou devoro-te!”. É o símbolo perfeito de toda a incerteza que minha vida se tornou nesses últimos meses. E a interrogação no lugar da face é o próximo ano, é o futuro que não sei, é o Douglas de amanhã e o de hoje também. 

Sr. Não Sei

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