Amanhecendo, saindo
de casa, indo à Viçosa, para uma vida nova
Após tantos posts sobre angústia e blá blá blá melancólico e preocupado, parece
estranho aos meus olhos escrever sobre as boas notícias atuais. Pois bem,
AMANHECEU. Vou mudar de cidade, cursar Direito na Federal de Viçosa - MG. Vou
sair desse sertão norte-mineiro e migrar para terras mais frias. Por lá,
espero permanecer pelos próximos cinco anos da minha vida, no mínimo. A mudança
pela qual tanto esperei está aqui, encarando-me de frente, e tudo está me
parecendo absolutamente normal.
O
ano passado foi quase inteiramente dedicado a esse objetivo. Ou melhor, a minha
vida inteira serviu para culminar neste ponto. Foram dezoitos anos de preparação,
e não um apenas. Todos os segundos respirados parecem fazer algum sentido
agora, como se fossem peças de um milimétrico quebra-cabeças: a família certa,
os amigos certos, quem diria, a escola certa, o ambiente correto. Estou
orgulhoso de mim, e não apenas pelo resultado, que não foi nada de
extraordinário, mas pelo todo que me tornei. Gosto muito do Douglas de agora. E
estou pronto para começar a acrescentar-lhe peças novas.
A
primeira viagem à nova cidade foi a minha última prova de fogo. Viçosa me recebeu
com fúria, tempestade, árvores caídas na estrada, curvas, neblina. Durante a
chegada quase interminável, havia apenas silêncio dentro do carro e somente a
voz confiante do GPS quebrava o gelo, o medo, as orações. Vencida a prova,
abrandada a chuva, na entrada da cidade, já com o som do carro ligado para
espantar energias ruins, Rita Lee ofereceu-me o prêmio final: um terno abraço
de boas-vindas, cantando Doce Vampiro:
“Mas nada disso importa, vou abrir a porta para você entrar (...)”. Entrei. E
lá vou ficar.
A fúria na estrada
O mais estranho de tudo é que, como mencionado no primeiro
parágrafo, não há frio na barriga nem medo nem ansiedade. Estou normal quanto à
mudança, “escolinha” nova e pessoas diferentes. Estou anestesiado. Quero
começar a viver logo tudo isso para que os sentidos possam retornar a mim. Nem
que seja aquela melancolia que me acompanha sempre e que agora, comigo distante
(dos outros) ou mais próximo (de mim), será acrescida de saudade. Por enquanto,
a serenidade está reinando, pois sei que o caminho certo é exatamente este. Já
posso voltar a ler normalmente, escrever o que quiser, encontrar amigos e me
divertir enquanto não parto. Estou de férias e de mudança.
(Doce Vampiro - Rita Lee)
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