Thiago,
cada amigo tem um tempo-espaço. Cada um vive seu próprio
relógio-calendário. Não se engane, não existe verdade. Às vezes, alguns tempos
se encontram em espaços também similares. Mas é encontro fugaz, rápido,
passageiro, logo vai. O que se há de fazer depois, quando o que resta são
desencontros, é entender a teoria dos tempos-espaços desiguais. Em Antiga Alegria, dois amigos se
reencontram depois de um tempo de hiato. O hiato permite respirar, o hiato
permite desvencilhar-se, procurar o novo, mudar com o caminhão cheio de caixas
vazias. Os amigos fazem um passeio juntos pela floresta. Eles se perdem. Eles
se silenciam. Eles se olham pouco, não se reconhecem mais. O silêncio é sinal
do descompasso. Pesa, incomoda, desintimidade. É apenas alegria esgotada, um deles pondera, num dos poucos diálogos.
Há espera. Há água, floresta. Algo grande pode vir à tona, acontecer, mas
espera. Espera no olhar, na boca querendo dizer, mas fechada. Pouco ou nada vai
acontecer, no filme e na vida além que ele carrega. É o fim de uma era.
(do filme Antiga Alegria, de Kelly Reichardt, USA,
2006)