“Agora é o sertão. Perfume das flores do sertão. Campos
amigos, aves amigas, magros cachorros nas portas das casas. Velhos que parecem
missionários indianos, negros de longos rosários no pescoço. Cheiro bom de
comidas de milho e mandioca. Homens magros que lavram a terra para ganhar mil e
quinhentos dos donos da terra. Só a caatinga é que é de todos, porque Lampião
libertou a caatinga, expulsou os homens ricos da caatinga, fez da caatinga a
terra dos cangaceiros que lutam contra os fazendeiros. O herói Lampião, herói
de todo o sertão de cinco estados. Dizem que ele é um criminoso, um cangaceiro sem coração, assassino, desonrador, ladrão. Mas para Volta
Seca, para os homens, as mulheres e as crianças do sertão é um novo Zumbi dos
Palmares, ele é um libertador, um capitão de um novo exército. Porque a
liberdade é como o sol, o bem maior do mundo. E Lampião luta, mata, deflora e
furta pela liberdade. Pela liberdade e pela justiça para os homens explorados
do sertão imenso de cinco estados: Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Sergipe e
Bahia.”
(Jorge Amado, Capitães da Areia, 1937)
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