E tudo que
ficará para a posteridade do carnaval de 2012 (o último?) será uma foto, só
agora revelada, do carnaval de 2009 – o último.
Reconheço no
moço de gravata um eu alegre, menos preocupado, menos adulto, menos
responsável. Um eu de roupa de banho, sem vergonha, sem pudor, como essa
senhora no canto direito, carnavalizada. Essa felicidade dos pulos, dos
confetes, dos amigos fazendo caretas não é a felicidade de hoje. São
diferentes. Esta em que me encontro é a
felicidade serena, mensurada, contida. No carnaval, nesta fotografia, só vale o
contrário. Mas sem querer, sem acompanhamento consciente, a euforia passa, a
alegria passa, a gravata torta e a embriaguez também se perdem. E o que sobra?
Deste lado da
fronteira do tempo, a felicidade se aquieta, é mansa, calminha como uma
certeza, e fica, permanece até segunda ordem.
Felicidade
real, se é que ela existe, é prima próxima, quase irmã da serenidade. O resto é
desvario. E o carnaval é feito pelos desvairados. Por isso, neste ano, não me
sintonizo com a data. Não estou afim da extravagância de máscaras coloridas, de
paixões de poucos dias, de amigos de poucas músicas, efemeridade. Quero
aproveitar os meus últimos dias, antes da mudança definitiva, prolongando
abraços, aproveitando o fim da tarde para carícias sem pressa, para saciar a
saudade antecipada da família e despedir-me dos lugares que certamente levarei
comigo. Lugares os mais calmos possíveis, como tudo que admiro. Sem serpentinas
no lugar dos pássaros. Sem marchinhas no lugar do silêncio. Sem desconhecidos
no lugar do vento conhecido.
E o eu longínquo
desta fotografia, que fique por lá mesmo, contente, dançando ao som de alguma
música fácil, ao lado de pessoas fáceis, despreocupadas com o fim da festa e o
começo da ressaca. Que esse garoto quase sem calças não desperte e cante como
se a euforia bastasse. E, emoldurado por um porta-retrato, embaçado pela
memória fraca, jamais alinhe a sua gravata. Deixem que o eu ameno de hoje faça
isso.