Era um castelo medieval onde funcionava um colégio interno.
Eu estava lá, junto com uma turma, visitando, ficaríamos o dia inteiro. Havia
água, competições, não lembro ao certo. Em dado momento, peguei no colo um
amigo, R., que estava em forma de bebê, mas totalmente redondo, seu rosto
estava esticado. Peguei-o no colo e caminhei com ele por um grande corredor,
ninando-o. Atrás de mim, notei, estava vindo devagar um rapaz muito bonito, que
conheço pessoalmente, L.. Senti interesse sexual por ele. E, pelo ritmo dos
passos que dava, lentos como os meus, cogitei também o seu interesse. Até que
L. me alcançou, caminhou ao meu lado. Por já o conhecer, puxei conversa,
perguntando se estava tudo bem. L. trabalhava no colégio, vestia um macacão cinza
todo sujo por fuligem, como se trabalhasse com carvão. Comentei que o colégio estava
bastante movimentado com a visita. E ele me disse que não gostava quando vinham
visitas, porque se apegava às pessoas e elas iam embora rapidamente. L. estava
muito sério e pouco me olhava nos olhos.
Caminhamos, até que ele entrou numa grande sala sem porta,
separada do corredor apenas por um grande portal. Entrei também. Na sala, de
paredes salmão, havia uma varanda. Além disso, passando por dentro da sala
grande, chegávamos a uma sala de tamanho médio que, por sua vez, conduzia a uma
terceira, de tamanho menor. Debruçamo-nos na varanda, olhamos a mata lá fora e
conversamos sobre algum assunto que não me lembro. Ele continuava demasiado
sério e sem me olhar no rosto. No entanto, nesta altura, eu já havia notado seu
interesse sexual por mim. Ambos estávamos interessados um no outro. De repente,
sem ser explícito, ele indicou que fôssemos para um lugar mais reservado. Da
sala grande, passamos pela sala intermediária até chegarmos à sala menor.
Havia, na parede lateral, um pequeno orifício, como um cano de espessura
mínima, diâmetro um pouco maior que o de uma caneta. Ele me indicou o local, o
tal lugar mais reservado, e, me pedindo para segui-lo, entrou por esse pequeno
cano, abrindo espaço com o próprio corpo, esticando-o, como as cobras se
esticam ao engolirem grandes presas. De repente, sumiu. Por um instante, pensei
sobre a possibilidade de acompanhá-lo. Não sabia aonde aquele canal me levaria,
mas o meu interesse por aquele homem estava me movendo. Deixei R. numa estante
da sala, fui ao quarto, peguei minhas coisas, enquanto me decidia, e voltei até
o orifício. Por já haver transcorrido certo tempo, pensei que L. poderia estar
impaciente me esperando, onde quer que estivesse. Olhei no celular e havia uma
mensagem de voz dele, não ouvi. Resolvi entrar pelo caninho e encontrá-lo sem
mais demoras.
Introduzi meu dedo no buraco e percebi que ele realmente se
esticava, era feito de uma borracha muito elástica. Logo em seguida, introduzi
minha mão direita, depois a mão esquerda, as duas mãos juntas, esticando-o.
Enfiei meus dois braços, mas a borracha se rasgava e seria impossível
penetrá-la. Retirei a parte rasgada, inseri meus dois braços novamente, depois
minha cabeça, meu tronco, entrei. Dentro do espaço do caninho, havia uma sala
de ginástica, uns colchonetes no chão. Comecei a fazer exercícios de
alongamento, enquanto imaginava L. ali comigo, em contato corporal enquanto
fazíamos exercícios juntos. Jogava-o para um lado, depois para outro. Nesse
contato imaginado, ejaculei. Após isso, continuei o percurso pelo canal (não havia
saído dele) e, na dificuldade em respirar e me movimentar, rastejando naquele
espaço apertado, a imagem que via de dentro era a de um papel pardo amassado.
Encontrei uma caixinha cheia de remédios. A instrução era de que eu precisava
ingerir um pó dourado para não passar mal durante o percurso. Para medir a
quantidade certa, teria que espalhar o pó por toda a minha mão esquerda e
lambê-la. Mão dourada, lambi. Continuei o percurso até o fim, quando apareci,
finalmente, num espaço verde, em declive, em paz, como a capa do novo disco do
Sam Amidon.
Assim como na capa, havia pessoas interagindo com o espaço,
em plena harmonia, integradas. Percebi que eu já havia estado naquele lugar
antes. Logo, raciocinei que eu não precisaria do percurso através do orifício
para chegar até lá, a realidade me encaminharia da mesma forma, se eu quisesse.
Conhecia o caminho, inclusive. Duas primas chegaram de carro até o local,
sentamos juntos numa mesa de concreto. Ficamos discutindo sobre se aquelas
pessoas, que ali moravam, seriam comunistas. Perguntei a uma das primas se ela
teria visto L., ela disse que sim, mas ele já havia partido. Tarde demais,
pensei. Mas lembrei da mensagem de voz em meu telefone e a ouvi.
L., ao invés de perguntar onde eu estava, porque não havia
ainda chegado, agradeceu pelo nosso encontro, disse que foi muito bom termos
estado juntos e, pela primeira vez, senti entusiasmo em sua voz.