“Encaro o sol até a
cegueira, não, não quero, agora não. Estava tão contente pensando só em letras
e de repente elas foram se compondo, tão perigosas quando se juntam. Mas na
raiz são descomprometidas. Umas crianças, A,
B, H, M, O... Tão raro o X. Em declínio, o Z, rei
desmemoriado, o irmão gêmeo S com a
astúcia de um usurpador. Ponho o dedo em cima do F desventrado que Irmã Bula bordou, as letras também levam facadas
no ventre, tiros no peito, socos, agulhadas, coices – também as letras são
atiradas ao mar, aos abismos, às latas de lixo, aos esgotos, falsificadas e
decompostas, torturadas e encarceradas. Algumas morrem mas não importa, voltam
sob nova forma, como os mortos.”
- Lygia Fagundes
Telles, As meninas, 1973
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