A proposta é simples:
escrever os sonhos da forma como eles vêm pela manhã: fragmentados,
esmaecendo-se. Kerouac queria ouvir o inconsciente através de sua própria
linguagem, sem a edição natural da fala e do pensamento. Acordava e, ainda
sonolento, descrevia em sua agenda as imagens vistas durante o sono. Esse
impulso resultou em O livro dos sonhos,
obra de textos curtos e, por vezes, inacabados – como as próprias visões
noturnas o são. As imagens se misturam e não há qualquer esforço do autor em se
fazer entender. Por isso, a linguagem é o grande trunfo deste livro, a
linguagem típica da geração beat:
espontânea e fluida. Vários personagens de suas outras obras – On the road, Os subterrâneos –
reaparecem em novas situações, sem
nenhuma explicação especial, a não ser a de que o espírito não descansa, o
cérebro se agita, a lua some e todo mundo tapa a cabeça com o travesseiro,
usando touca de dormir, como afirma o autor na introdução. O grau de
libertação através da linguagem atinge um extremo e é impossível, enquanto
escritor, não se deixar contaminar. Extremos indicam caminhos.
Porém, o grande
problema da obra é que, devido às narrativas serem curtas e desconexas, não há
criação de vínculo efetivo com o leitor, o que prejudica a permanência na
leitura. Chega um ponto em que o entendimento da proposta estética se consolida
e não há muitas razões para seguir lendo. No entanto, para aqueles que não se
importam em saltar páginas, vale a pena tê-lo sempre por perto, acordar pela
manhã, abrir numa página qualquer, misturar seus sonhos aos do autor. Quem
sabe, fazer seu próprio registro.
O livro dos sonhos
Jack Kerouac
1961
L&PM Pocket
250 páginas
Avaliação: 3/5
Pefsko
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