terça-feira, 15 de abril de 2014

Desabafo de nº 4

Não leia seus poemas passados. Não me conte verdades. Engula a palavra, como a gente engole o choro quando menino. Quando você está por perto, minhas palavras saem gaguejadas, ou não saem. O professor não erra a pontuação, o reto da linha, não hesita. Autômato. Automático. Você pode desestabilizar o estado de frieza dele, menina? Desestabilize! Desestabilize!

Mosquitos estão me rondando. Já estarei morto? Morto enquanto caminho? Morto enquanto almoço e sorrio? Morto enquanto ouço o professor falar que decadência é
termo jurídico
termo jurídico
termo jurídico. 

segunda-feira, 14 de abril de 2014

“Aqui há uma pequena sacada, a porta está aberta e posso ver as luzes dos carros na Harbor Freeway sul, nunca param, o rolar das luzes, sem parar. Todas aquelas pessoas. O que estão fazendo? O que estão pensando? Todos nós vamos morrer, que circo! Só isso deveria fazer com que amássemos uns aos outros, mas não faz. Somos aterrorizados e esmagados pelas trivialidades, somos devorados por nada.”


(Charles Bukowski, em diário – 29/08/91. Trecho retirado do livro O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio, 1998).