quarta-feira, 17 de abril de 2013



“Os presídios, mesmo com trabalhos forçados, de primeira, segunda ou terceira categoria, isto é, em minas, em pavimentações, em artesanato e em degredo temporário ou perpétuo, longe estão de reformar o delinquente; são locais puramente de castigo, garantindo teoricamente à sociedade renovação dos indivíduos que são segregados dela. O encarceramento e o trabalho pesado só hipertrofiam no recluso o ódio, a sede de instintos, e complementarmente acarretam indiferença e marasmo espiritual. Não resta dúvida de que o tão gabado regime de penitenciária oferece resultados falsos, meramente aparentes. Esgota a capacidade humana, desfibra a alma, avilta, caleja e só oficiosamente faz do detento “remido” um modelo de sistemas regeneradores. Na verdade esse “reajustado” não é senão um ex-vivente, um despojo, um casulo murcho e inibido.”


Dostoiévski,
em Recordações da Casa dos Mortos, que já no século XIX entendia que o sistema penitenciário não corrige, educa, ou “ressocializa” ninguém, muito menos nossas crianças e adolescentes. Eu sou contra a redução da maioridade penal. E você? 

Luiza,
vem cá.
Banhe
de
verde
qualquer
dia
comum.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

"Isso de querer ser
exatamente aquilo que a gente é
ainda vai nos levar além."

Paulo Leminsky

The Two Fridas - by Frida Kahlo

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Odyr Bernardi


“A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro no pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folhas de Flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras.”

(Machado de Assis, no conto Pai contra mãe)

segunda-feira, 1 de abril de 2013



Os heróis se calam
antes de contar
o que realmente viveram.
Os heróis se calam,
não eu.

Divido as cebolas na tábua,
divirto-me com o sofrimento,
assusto o almoço
com minha risada,
enumero os cabides no armário,
arte inútil que me fixa
até o sol baixar.

Salvo um dia de cada vez.
Os telhados também são muros.
Orquídeas surgiram nas calhas.
A semente não escolhe
o lugar da queda,
o solo da floração.
Germina erros.

Viver é despreparo.
Ao apanhar um pacote,
outros escorregam.
Sento na calçada,
desolada com a comida espalhada,
faltando-me a calma da chuva.
Salvo um dia triste de cada vez.

(Carpinejar)

Desabafo de nº 2


Preciso conhecer melhor as pessoas. Conhecer o que as move, se é que se estão movendo, e o que as faz parar. As pessoas são depressivas. Depressão é o mal do século. De repente os estranhos que passam por você na rua, que te olham por um instante, sem ver, aquelas pessoas nos bares, nos supermercados, no trabalho, aquela juventude que não parece ter crises, de repente, essas pessoas choram de tristeza profunda, de repente elas se humanizam, como se o sofrimento fosse pré-requisito para ser humano. E as melancolias alheias me pesam, como se não bastassem as minhas. A depressão está me rondando, pouco a pouco chegando mais perto, como num estado de latência, monstro impassível querendo acordar.