domingo, 15 de janeiro de 2017

Boca que dispara

O Antissarau tem registrado em vídeo os poemas lidos em nossos encontros ao longo de 2015-2016. Estão lá Valciãn Calixto, Júlia de Carvalho Hansen, Ismar Tirelli Neto e Ana Martins Marques. Faço uma leitura de bônus-track de [Clareza demais no meio das] de Anitta Costa Malufe. Não lemos esse poema coletivamente, mas ele me acompanhou ao longo do ano passado como um guia, refrão, eco. Poema que só me fez sentido quando lido com a boca aberta, empunhando voz. Gravei-o no cantinho da varanda, com todo mundo conversando ao fundo, como quem rouba um doce e vai embora.

Clique na imagem abaixo para se direcionar ao vídeo e não se esqueça de assistir também às outras leituras.

Mais abaixo ainda, o poema.


p.s.: 2017 é ano de empunhar arco e flecha. ano de acertar o alvo. depois, o rio de ouro.




clareza demais no meio das
palavras clareza demais nesta
boca que dispara que não pode
se calar não pode parar de falar e
falar e esta luz circular luz focada
foco de luz preso obcecado a boca
circundada de negro um excesso
de clareza mas tudo o que
precisávamos era isto
clareza iluminação foco ou
distância a facilidade é
sempre maior em dias claros você
não precisa abrir muito o diafragma
e a maior velocidade já dá conta
de captar o instante com foco nitidez
sem ceder ao tremor das mãos menos
firmes



- Anitta Costa Malufe