domingo, 25 de setembro de 2011

Recorte: Onde vivem os monstros





“– Eu não sou um viking, ou rei, ou... ou nada.

- Então o que você é?

- Eu sou o Max.

- Bem... Isso não é lá grande coisa, não é? ”.

(Onde vivem os monstros, 2009)

sábado, 24 de setembro de 2011

As sutilezas das cidades

                                                                   (Antônio Dias, Ouro Preto - MG)  


Para Fernando Pessoa, “navegar” é sinônimo de criar. O mesmo verbo para mim, mero mortal, conserva o seu significado original: “viajar pelo mar”. Este “mar” pode ganhar também inúmeros significados além daquele que diz sobre a sua imensidão azul: pensamentos, um outro alguém, a mente humana, a internet, ou uma cidadezinha qualquer. Dessa forma, Pessoa, concordo contigo. “Navegar é preciso”. 

Eu tenho uma espécie de espasmo quando conheço um novo lugar. Não, não começo a tremer ou algo assim, mas é como se uma onda eletroqualquercoisa passasse por dentro de mim e registrasse aquele local. Acontece sempre quando entro na casa de alguém pela primeira vez, ou quando estou numa nova cidade. Esse “registro” funciona para as coisas visíveis, para o ambiente como um todo. Mas ele não ocorre com as pequenas coisas, as sutilezas de cada lugar; aqueles detalhes mínimos que diferenciam cada canto deste mundo, que os tornam especiais. 

É a neblina que te recepciona pela manhã; as ruas estreitas e ainda em calçamento; os postes e a arquitetura típicos de algum tempo passado; a moça brincando com o seu bebê na janela colonial; o senhor tocando jazz na praça principal. Sutil é o ranger do assoalho de madeira das construções antigas; é o silêncio dos museus; a varanda das casas que nos convidam a contemplar. A charmosa falta de planejamento que produziu uma cidade em labirinto. O contraste do semáforo, mecanismo moderno, em meio a um lugar que parou no tempo. Lugar em que as esquinas sussurram histórias e a cultura está no ar que se respira. Terras de amor em poesia, de vida em ladainha, do aconchego da solidão. Onde o apito na estação de trem é o túnel que te transporta ao passado. Onde a liberdade, tão cara, foi deixada como herança.
 

São de Ouro Preto e Mariana, nas Minas Gerais, todas essas sutilezas. São todas um convite à imersão, ao maior dos escapismos, ao navegar pleno e sereno que a história e a arte podem proporcionar.



sábado, 3 de setembro de 2011

69 Praça da Luz - Documentário




           Somos todos muito bitolados e não entendemos o quão complexas são as coisas. E não digo complexas no sentido de difíceis, mas no sentido de amplas. Não existem apenas dois lados de determinadas situações, mas vários. Infelizmente, não nos aprofundamos suficientemente em alguns assuntos para conhecer todas essas faces – e nem é possível conhecê-las todas em todos os casos. No entanto, é possível deixar de pensar de forma tão mesquinha e limitada e começar a entender a grandeza das coisas.              

Documentários têm essa característica muito forte: fazer-nos enxergar além. Com 69 – Praça da luz não foi diferente. O que pensar de mulheres, com idade avançada, que se prostituem? Por que elas fazem isso? Falta de opção, pobreza, azar na vida? Talvez, a princípio, mas não é só isso. A Geisa, a Silvania, a Ana Zilda, a Emília e a Claudete deste documentário o fazem porque querem, porque gostam. Sendo assim, por que não?

É na Praça da Luz, em São Paulo, que essas mulheres – tão surradas pela vida – trabalham, sustentam-se e são felizes. Obviamente não dá para fazer dessa felicidade uma regra e eu não estou levantando aqui a bandeira da prostituição. Estou apenas satisfeito em conhecer mais um lado, inusitado talvez, mas real. Totalmente real. 

E se é assim que elas encontram a beleza da vida e sentem prazer em vivê-la, que assim seja. O que não devemos, pretensiosos que somos, é tentar demarcar o que é certo e o que é errado e querer encaixar todo mundo ali. Pois é o que fazemos quando estamos de viseiras. Quando não percebemos que todo mundo é cada um. E que cada um ainda é muito, porque somos tanto. 

Assistir a documentários como esse é mais do que conhecer, é aprender a respeitar a infinidade do outro, das outras, dessas mulheres – calejadas, e absolutamente dignas – da Praça da Luz.
 

          Como o assunto é um documentário, hoje não irei indicar músicas, mas outro. Este se chama Dois Mundos e se trata de deficientes auditivos que fizeram transplante ou usam aparelho e que agora podem ouvir. O mais interessante – e o raciocínio sobre novas realidades continua aqui – é perceber que alguns deles, mesmo agora conhecendo os sons, preferem o silêncio.