quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Menos uma definição absoluta, mais o início de uma discussão



“(…) O material do poeta é a vida, dissemos. (…) É que a vida é para todos um fato cotidiano. Ela o é pela dinâmica mesma de suas contradições, pelo equilíbrio mesmo de seus polos contrários. (…)

Mas para o poeta a vida é eterna. Ele vive no vórtice dessas contradições, no eixo desses contrários. Não viva ele assim, e transformar-se-á certamente, dentro de um mundo em carne viva, num jardinista, num floricultor de espécimes que, por mais belos sejam, pertencem antes a estufas que ao homem que vive nas ruas e nas casas. Isto é: pelo menos para mim. E não é outra a razão pela qual a poesia tem dado à História, dentro do quadro das artes, o maior, de longe o maior número de santos e de mártires. Pois, individualmente, o poeta é, ai dele, um ser em constante busca de absoluto e, socialmente, um permanente revoltado. Daí não haver por que estranhar o fato de ser a poesia, para efeitos domésticos, a filha pobre na família das artes, e um elemento de perturbação da ordem dentro da sociedade tal como está constituída.

Diz-se que o poeta é um criador, ou melhor, um estruturador de línguas e, sendo assim, de civilizações. Homero, Virgílio, Dante, Chaucer, Shakespeare, Camões, os poetas anônimos do Cantar de Mío Cid vivem à base dessas afirmações. Pode ser. Mas para o burguês comum a poesia não é coisa que se possa trocar usualmente por dinheiro, pendurar na parede como um quadro, colocar num jardim como uma escultura, pôr num toca-discos como uma sinfonia, transportar para a tela como um conto, uma novela ou um romance, nem encenar, como um roteiro cinematográfico, um balé ou uma peça de teatro. Modigliani – que se fosse vivo seria multimilionário como Picasso – podia, na época em que morria de fome, trocar uma tela por um prato de comida: muitos artistas plásticos o fizeram antes e depois dele. Mas eu acho difícil que um poeta possa jamais conseguir o seu filé em troca de um soneto ou de uma balada. Por isso me parece que a maior beleza dessa arte modesta e heroica seja a sua aparente inutilidade. Isso dá ao verdadeiro poeta forças para jamais se comprometer com os donos da vida. Seu único patrão é a própria vida: a vida dos homens em sua longa luta contra natureza e contra si mesmos para se realizarem em amor e tranquilidade.”


(Vinícius de Moraes, na crônica Sobre a poesia, publicada no livro Para viver um grande amor, 1966, Livraria José Olympio Editora: Rio de Janeiro)

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Estou à venda



"Escorre", o tal livro de poemas artesanal, está à venda. Algumas más línguas (dentro da minha cabeça) dizem que também estou me vendendo. Aquiesço.

O preço é: doze reais (mais frete, se for o caso).

Para quem se interessar, favor, mandar mensagem inbox manifestando interesse e informando endereço. Aqui, meu facebook. Ou podem pedir por e-mail: douglasdeoliveiratomaz@gmail.com

Alguns informes:

a) a última semana, de tão bizarra, me fez aceitar o crescimento natural do meu cabelo. sem podas até segunda ordem.

b) várias mínimas coisas não andam dando certo, como: zíper da mochila, costura do sapato, calças jeans, microsoft office – tudo ao mesmo tempo. definitivamente, não sei lidar com as mínimas coisas.

c) no último sábado pela manhã, um personagem meu, caminhoneiro, bateu à minha porta. tivemos um diálogo.

d) na ocasião, ele me encontrou com o cabelo em pasta, devido à hidratação. me controlei e não pedi qualquer desculpa.

té.



p.s. I.: mais do que deus, ou o destino, ou o acaso, a Crise, esta palavra desgastada, ganhou agora o poder de tudo justificar.

p.s. II: como pôde ser constatado, além de não saber costurar calças e zíperes, ainda não aprendi como escrever texto publicitário.


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Adélio Brasil, o costureiro

Entrevistar Adelinho foi muito fácil. A começar pela permissão íntima de se usar o nome no diminutivo; fácil também pelo ambiente confortável de sua casa, pelo vento de março que agitava as árvores da rua e abraçava nossa conversa, pela generosidade com que ele interrompia a entrevista para oferecer suco, cerveja, vinho, qualquer carinho que o valha. Sobretudo fácil, porque todas as perguntas foram respondidas antes mesmo de terem sido feitas. Bastava ouvir. E ouvir, quando o emissor é um exímio contador de histórias, que prolonga ou encurta palavras no momento certo, aumenta ou diminui a entonação da voz no intuito de ênfase, pausa, sabe o peso que cada palavra tem, enfim, ouvir nesse caso é fácil, muito fácil.
 
(trecho de entrevista produzida por Davi e por mim para O Salto. leia-a na íntegra clicando na foto abaixo. divirta-se.)

http://osaltobarranqueiro.blogspot.com.br/2015/09/adelio-brasil-o-costureiro.html

domingo, 6 de setembro de 2015

Variações sobre o indizível ou para desconsolar o domingo

1) Do Victor Heringer, este texto sobre Aylan Kurdi, aqui.

2) Sobre o mesmo menino, mas um poema do Jefferson Vasques, aqui.

3) E saruês e mais e ainda. Do Lucas Gehre, aqui.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015