segunda-feira, 17 de maio de 2021

Dois contos

(Cindy Meira)


Recentemente, publiquei dois contos em revistas literárias:


"A fábrica", na Revista Cupim

&

"Ela gostava de pêssego", na Revista Em Tese.


Cuido desses contos há muito tempo e é estranho lançá-los justamente agora, nesta época de horror e pasmo - parece ser uma alegria que não merece ser comemorada.

Mas, não podendo ser de outra forma, percebo que "A fábrica" é mesmo um conto sobre horror e pasmo, um conto estranho, indigesto. E é justamente por estarmos nesta época que quis publicá-lo agora.

Conta a história de uma fábrica abandonada que um dia acorda e se olha.

Embora eu já esteja distanciado dessa narrativa, ela ainda me vem à cabeça às vezes, como uma lembrança fantasmagórica e, em outras vezes, me sinto como essa fábrica desorientada, perdida dentro de si, tentando reconstruir o que ela mesma destruiu. Sinto compaixão e raiva.

Sobre "Ela gostava de pêssego" gostaria de dizer muitas coisas, mas ainda não sei bem. Guardo uma leve intuição de que foi o melhor texto que já escrevi, mas não deixo de pensar também que é porque se trata do mais pessoal.

Essa história chegou a mim em abril de 2014, engatilhada por uma frase que ficou pairando por um longo tempo, até que eu finalmente conseguisse encará-la: “Perdi minha avó”. Essa frase sem saída me levou a outra, que já me indicava a estrada: “Tenho que fazer uma viagem”. E acho que isso é tudo que precisa ser dito: a distância. 

Na semana em que o conto foi publicado, perdi um tio e tive que novamente viajar, percorrer um trajeto geográfico e íntimo. Dedico, então, esse texto a ele e à minha avó, sempre, como tentativa de chegar na hora certa.