terça-feira, 16 de setembro de 2025

Dois poemas de Walt Whitman

 



QUANDO EM TEU COLO DEITEI A CABEÇA, MEU CAMARADA

Quando em teu colo deitei a cabeça, meu camarada,
a confissão que fiz eu reafirmo,
o que eu te disse e a céu aberto
eu reafirmo: sei bem que sou inquieto
e deixo os outros também assim,
eu sei que minhas palavras são armas
carregadas de perigo e de morte,
pois eu enfrento a paz e a segurança
e as leis mais enraizadas
para as desenraizar,
e por me haverem todos rejeitado
mais resoluto sou
do que jamais poderia chegar a ser
se todos me aceitassem,
eu não respeito e nunca respeitei
experiência, conveniência,
nem maiorias, nem o ridículo,
e a ameaça do que chamam de inferno
para mim nada é, ou muito pouco,
meu camarada querido: eu confesso
que o incitei a ir em frente comigo
e que ainda o incito sem a mínima ideia
de qual venha a ser nosso destino
ou se vamos sair vitoriosos
ou totalmente sufocados e vencidos.

 

***

 

ÀS VEZES COM A PESSOA A QUEM AMO

 

Às vezes com a pessoa a quem amo

fico cheio de raiva

por medo de estar só eu dando amor

sem ser retribuído;

e agora eu penso que não pode haver amor

sem retribuição, que a paga é certa

de uma forma ou de outra.

(Amei certa pessoa ardentemente

e meu amor não foi correspondido,

mas foi daí que eu tirei estes cantos.)

 

(Walt Whitman, Folhas das folhas de relva. Tradução: Geir Campos)