segunda-feira, 1 de abril de 2013



Os heróis se calam
antes de contar
o que realmente viveram.
Os heróis se calam,
não eu.

Divido as cebolas na tábua,
divirto-me com o sofrimento,
assusto o almoço
com minha risada,
enumero os cabides no armário,
arte inútil que me fixa
até o sol baixar.

Salvo um dia de cada vez.
Os telhados também são muros.
Orquídeas surgiram nas calhas.
A semente não escolhe
o lugar da queda,
o solo da floração.
Germina erros.

Viver é despreparo.
Ao apanhar um pacote,
outros escorregam.
Sento na calçada,
desolada com a comida espalhada,
faltando-me a calma da chuva.
Salvo um dia triste de cada vez.

(Carpinejar)

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