sábado, 27 de fevereiro de 2021

Revista Cupim: conversas


Tenho pra mim que uma boa forma de conhecer uma cidade é seguir o rastro dos seus artistas. Assim, um dos meus motivos de orgulho no ano passado, apesar de 2020, foi ter entrevistado três artistas de Belo Horizonte para a Revista Cupim: Ricardo Aleixo, Renato Negrão e, mais recentemente, Zé D Nilson. A proposta da conversa com o Zé foi fazer uma entrevista-caminhada pelos viadutos da região da Lagoinha, onde estão situadas suas texturas. A Clara Amorim esteve ao meu lado nesse trajeto e foi responsável também pelo registro das imagens.

Penso que cada pessoa entrevistada demanda do entrevistador uma nova postura, um novo dispositivo de entrevista, uma nova linguagem. Por isso, com Renato Negrão já senti o desejo de ouvi-lo desenvolver seu pensamento numa espécie de entrevista-ensaio. Eu lhe fiz perguntas diretas em uma conversa longa por áudio de Whatsapp, mas depois as apaguei do corpo do texto, deixando que somente seu pensamento se encadeasse, fluido, sem mediação aparente.

Com Ricardo Aleixo, por sua vez, eu quis ouvir sua coloquialidade. Combinei que nossa conversa seria motivada apenas por uma pergunta básica, roubada do Facebook, e a partir dela a entrevista se desenrolaria como viesse: “No que você está pensando?”. Durante uma hora exata trocamos áudios e me lembro do espanto diante de cada resposta, do susto de ter que aprumar meu corpo para tentar me colocar à altura delas. A fala espontânea de Ricardo já vem extremamente editada, então minha tarefa foi apenas transcrever a conversa com todos os seus ruídos.

Gosto demais do gênero entrevista, principalmente quando estou na posição de escuta. Recentemente assisti a mais um documentário do mestre Eduardo Coutinho, “Edifício Master”, e dessa vez mais do que a profunda humanidade dos seus personagens documentados, me impressionou a profunda humanidade do documentarista, que se coloca por trás da câmera, dispara sem medo as perguntas certas e aguarda.


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