sábado, 24 de setembro de 2011

As sutilezas das cidades

                                                                   (Antônio Dias, Ouro Preto - MG)  


Para Fernando Pessoa, “navegar” é sinônimo de criar. O mesmo verbo para mim, mero mortal, conserva o seu significado original: “viajar pelo mar”. Este “mar” pode ganhar também inúmeros significados além daquele que diz sobre a sua imensidão azul: pensamentos, um outro alguém, a mente humana, a internet, ou uma cidadezinha qualquer. Dessa forma, Pessoa, concordo contigo. “Navegar é preciso”. 

Eu tenho uma espécie de espasmo quando conheço um novo lugar. Não, não começo a tremer ou algo assim, mas é como se uma onda eletroqualquercoisa passasse por dentro de mim e registrasse aquele local. Acontece sempre quando entro na casa de alguém pela primeira vez, ou quando estou numa nova cidade. Esse “registro” funciona para as coisas visíveis, para o ambiente como um todo. Mas ele não ocorre com as pequenas coisas, as sutilezas de cada lugar; aqueles detalhes mínimos que diferenciam cada canto deste mundo, que os tornam especiais. 

É a neblina que te recepciona pela manhã; as ruas estreitas e ainda em calçamento; os postes e a arquitetura típicos de algum tempo passado; a moça brincando com o seu bebê na janela colonial; o senhor tocando jazz na praça principal. Sutil é o ranger do assoalho de madeira das construções antigas; é o silêncio dos museus; a varanda das casas que nos convidam a contemplar. A charmosa falta de planejamento que produziu uma cidade em labirinto. O contraste do semáforo, mecanismo moderno, em meio a um lugar que parou no tempo. Lugar em que as esquinas sussurram histórias e a cultura está no ar que se respira. Terras de amor em poesia, de vida em ladainha, do aconchego da solidão. Onde o apito na estação de trem é o túnel que te transporta ao passado. Onde a liberdade, tão cara, foi deixada como herança.
 

São de Ouro Preto e Mariana, nas Minas Gerais, todas essas sutilezas. São todas um convite à imersão, ao maior dos escapismos, ao navegar pleno e sereno que a história e a arte podem proporcionar.



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